quinta-feira, 8 de março de 2018

OLHAR AS CAPAS




Poemas

Léopold Senghor
Tradução: Luiza Neto Jorge
Capa: Manuel Dias
Colecção Licorne nº 5
Arcádia Editora, Lisboa, Fevereiro de 1977

Máscara Negra

                                              a  Pablo Picasso

Dorme e repousa na candura da areia
Koumba Tam dorme. Uma palma verde vela-lhe o febril cabelo,
         cobre-lhe a curva fronte
As pálpebras fechadas, dupla taça, fontes seladas.
Esse delgado crescente, esse lábio ao de leve mais negro e
         mais pesado – onde está o sorriso da mulher cúmplice?

A patena da face, o desenho do queixo cantam o seu mudo acorde.
Rosto de máscara fechado ao efémero, sem olhos sem matéria
Cabeça de bronze perfeita e sua pátina de tempo
Que nem tintas nem pinturas nem rugas sujam, , nem marcas
          de lágrimas nem de beijos
O rosto tal como Deus te criou antes da própria memória dos tempos
Rosto da alvorada do mundo, como meiga garganta não te
          abras para comoveres minha carne.
Adoro-te, ó Beleza, com meu olhar monocórdico!

Sem comentários: