Do que a história regista como “Verão Quente”, ou “PREC”, torna-se difícil encontrar o dia em que tudo começou,
Como a ignorância é atrevida, e estes apontamentos apenas são o desenrolar de uma série de recortes de jornais da época, que se encontravam em duas caixas de cartão, permito-me o atrevimento de dizer que esse tal Verão começou nos dias imediatos ao 11 de Março.
Mas o que parece ser consensual é que terá começado aquando de dois casos então ocorridos: “Rádio Renascença” e jornal “República”.
Dois casos relevantes que, oportunamente, terão uma abordagem fora destes registos.
Foi com a saída dos socialistas, seguida da dos sociais-democratas, do IV Governo que me fiquei no primeiro texto desta série evocativa.
18 de Julho
Início do Apontamento de José Saramago no “Diário de Notícias”:
“Nenhuma dúvida é já possível: ou Portugal cai sob a repressão de um regime neofascista capaz de rivalizar com o Chile de Pinochet e seus mandantes, ou cede às pressões nacionais e internacionais interessadas em fazê-lo ingressar na jangada capitalista e hábil da social-democracia, ou avança decididamente, lutando, para o socialismo. É isto o essencial, se não nos enganamos – e não vemos que alguém aí possa provar o contrário.”
“O Século” destaca uma afirmação do General Carlos Fabião, Chefe do Estado-Maior do Exército, num juramento de bandeira nas Caldas da Raínha:
“Hão-de estar contra nós muitos dos que se enganaram no comboio do 25 de Abril”.
Mário Soares num comício em Braga:
“Não queremos que Portugal se transforme num grande campo de concentração. Reconhecemos aos outros o direito de pensarem e terem as suas crenças como entenderem. É necessário respeitar a Igreja.”
Vasco Lourenço:
“Um das coisas em que se está a cair um pouco é confundir o PS com a reacção. O PS não é a reacção em Portugal. Algumas acções do PS e toda a situação que se está a criar é que são aproveitadas pela reacção.”
O Centro de Trabalho do PCP em Aveiro é atacado.
19/20 de Julho
Comícios do Partido Socialista no Estádio das Antas, no Porto e na Alameda, em Lisboa.
21 de Julho
Da reportagem de “O Século”:
“Violentíssimos ataques ao PCP, ao MDP/CDE e à Intersindical deram a tónica do ululante comício do PS, realizado em Lisboa, a congregar uma multidão enorme, vinda dos mais diversos pontos do país. “Se não fossem as barreiras estariam aqui mais de meio milhão de socialistas – afirmou em certa altura, com a voz enrouquecida, o dr. Mário Soares. Outro aspecto importante que emergiu das declarações proferidas foi o do PS pedir a substituição do Primeiro-Ministro e a constituição de um “Governo de Salvação Nacional, presidido por elemento apartidário do “M.F.A.” que, seria, também de “unidade popular.”
Um breve aparte:
Recentemente, Mário Soares declarou que, se não tivesse pedido a ajuda a D. António Ribeiro, Cardeal Patriarca de Lisboa, não teria conseguido aquela multidão no comício da Alameda.
Na madrugada deste dia o MFA divulgou um comunicado onde poderia ler-se:
“Portugal viveu, uma vez mais, dias decisivos para o seu processo revolucionário, caracterizados desta vez por um clima de instabilidade política, habilmente arquitectado por homens que parecem colocar, acima dos superiores interesses e anseios do povo português, a sua vaidade e a sua ambição.
Assistiu-se neste período por parte dos dirigentes de um partido que, pelo seu programa, deveria ser um dos mais importantes partidos políticos portugueses, a uma escalada de violência verbal, que, hábil mas traiçoeiramente, explorou as carências e insuficiências do nosso processo revolucionário e provocou, através da demagogia, da mentira e da calúnia, uma escalada de violência física que já causou vítimas inocentes no seio do Povo português”
O comunicado terminava:
“O M.F.A está e estará sempre com todos os que honesta e conscientemente pretendem construir o Portugal de felicidade que os vossos filhos mereçam.”
É atacada e destruída a sede do PCP em Alcobaça.
Afonso Praça fazendo para “O Jornal” (25.07.75) a reportagem deste assalto escreve:
“Em Alcobaça na tarde de terça-feira, constava à boca cheia que os comunistas até já tinham dinheiro impresso para pôr em circulação logo que o comunismo fosse implantado em Portugal. Mais: houve quem me garantisse que, na sede assaltada do PCP foram encontradas muitas das “novas notas” e que constava que em Lisboa havia uma casa cheia de dinheiro.
Vi notas das referidas nas mãos de um camponês. Mas não se trata de dinheiro nem nada de carácter clandestino: trata-se apenas de selos que o PCP, e outros partidos, vende para angariar fundos e que têm inscrito o respectivo montante: 20, 50, 100, 500 escudos…
Esforcei-me por esclarecer o que era aquele “dinheiro” mas parece-me que não o consegui.”
Legenda: no topo do texto, o título é do “Diário de Notícias” de 21 de Julho de 1975.
A outra imagem é retirada de “Vida Mundial”, 24 de Julho de 1975.
A outra imagem é retirada de “Vida Mundial”, 24 de Julho de 1975.
1 comentário:
Ainda é cedo para se fazer a História, mas felizmente que Mário Soares não escapará ao seu crivo. Por causa da sua vaidade e ambição pessoal, quase que colocou este país numa guerra civil. A sua última obra foi Fernando Nobre, não esquecer que esta criatura passou pela política apenas para servir de arma pessoal de Mário Soares contra Alegre, e como todas as outras vezes, não veio dali nada de bom.
Enviar um comentário