I
Os homens nasceram para
ser esquecidos
perante o batalhão de
bandeiras extintas
é natural que muitos se
perguntem
para que servem as mãos
mas na penumbra, quando
o coração bate
sem que saibamos porquê
vem-nos ao pensamento
que talvez a chama não
esqueça
o silêncio onde se
consumiu
II
A verdade nada suprime
através das divisões
não tenta cancelar o
desamparo de onde somos
nem reaver a pedra que
apenas deixou a nossa mão
as cavilhas do tempo
fixam na escuridão o
seu lençol
e é através dele que
entrevemos
a vida a nós
desconhecida
III
Que
rápido avança o degelo
como
carta rasgada em pedaços
o
viajante quando voltar
não
encontrará as próprias pegadas
na
paisagem agora nítida
ancorada
às suas margens
as
andorinhas em revoada
descobrem
a pupila de Deus.
José
Tolentino de Mendonça
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