domingo, 8 de janeiro de 2012

JANELA DO DIA


Por norma os fins-de-semana são dias parcos em notícias, os políticos os fala-barato, vão arejar e, apenas ficam as outras notícias, normalmente mortes outras tragédias, por vezes, um acontecimento feliz.
É um tempo propício para colocar à janela o que, nos últimos dias fui lendo pela concorrência.

1.

A opinião é do escritor chileno Luís Sepúlveda:

Há cada vez menos editores de verdade e cada vez mais managers que vendem livros conmo se fossem batatas ou bananas. Eles não falam de livros mas de produtos. Não falam de letras mas de números. Não falam de leitores mas de compradores. Com “yuppies à frente das grandes editoras, geram-se situações canalhas. Oferecem menos dinheiro aos escritores e chantageaim-nos, dizendo-lhes que não faltam escritores que queiram publicar.

As palavras assentam que nem uma luva na pessoa de Miguel Paes do Amaral, um rapaz de negócios diversos e que há uns dois ou três anos criou a Leya, um acervo de pequenas e grande editoras que existiam na nossa praça.

De livros Paes do Amral deve gostar tanto como eu, em miúdo, gostava de óleo de fígado de bacalhau., e, há tempos, numa entrevista ao Diário de Notícias revelava o seu gosto por carros e uma sua velha ambição de ser campeão de automóveis.

Soube-se, agora, que a Leya começou a despedir trabalhadores.

O facto merece de Sara Figueiredo Costa, no Cadeirão Voltaire, o seguinte comentário:

Já é público: o grupo Leya entra no novo ano a despedir trabalhadores, cerca de 30 só esta semana, segundo o jornal Público. Seguindo a mesma notícia, a Leya pensa crescer no Brasil, aumentando o número de funcionários de 600 para 700, e prepara-se para investir na área do digital e do ensino à distância.
Numa leitura mais pormenorizada da informação que agora se divulga, e ainda sem saber quem são os restantes trabalhadores que começam o ano na rua, fica-me uma dúvida que ultrapassa a questão laboral e social: uma das pessoas despedidas é o editor da Teorema, como vem na notícia. Ora, o que não vem na notícia é que o editor da Teorema, José Oliveira (depois de a Leya ter despedido Carlos da Veiga Ferreira há cerca de um ano, colocando José Oliveira como responsável também desta chancela, em acumulação com o trabalho que já fazia na Caminho), é também o editor responsável pelo catálogo infantil da Caminho. Assim de repente, o catálogo infantil da Caminho é capaz de ser, de entre os mais extensos catálogos do género em Portugal, o mais coerente, interessante e arrojado que temos. E isso não se deve à geração espontânea, mas sim ao conhecimento, ao trabalho e às apostas de José Oliveira, facto que deve estar muito próximo do consenso se falarmos com autores, editores, bibliotecários, professores, pais e outros mediadores possíveis. Com esta saída, o que acontece ao catálogo? Que futuro tem? E o que vão fazer ao passado que tão bem construiu? É a primeira dúvida angustiada que me assalta, sem falar do factor humano que 30 despedimentos implicam. Desconfio que não será a última.

2.

Sempre tive dificuldades em lidar com o passado, quer dizer, o meu passado é uma coisa um bocado irreal, pouco credível, parece pertencer a outra pessoa qualquer. Do futuro tenho uma imagem diferente, não desfocada mas riscada como um papel que tem palavras escritas e depois riscadas com muita força com um lápis de carvão e fica apenas uma mancha escura indecifrável sobre uma mancha branca. Resta-me uma nesga onde pousar os pés, não há espaço para desejos nem votos.

Lido no  Malone Meurt

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