sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

SARAMAGUEANDO


A Livraria Portugal, de portas abertas há setenta anos, a funcionar na Rua do Carmo, no Chiado,  junto ao elevador de Santa Justa,  vai encerrar.

Esta é uma notícia que dói. Dói porque é mais uma machadada na vida da cidade,  em particular na sua vida cultural.

Os motivos avançados são os do costume: uma boa fatia de leitores deixaram de frequentar as livrarias, passaram a comprar livros na internet, nas grandes superfícies, na Fnac que, digo eu, não é uma livraria, apenas uma outra qualquer grande superfície que vende livros, com a mesma displicência com que vende pilhas para transístores.

A Livraria Portugal chegou a empregar 50 trabalhadores, hoje tem uma dezena, que, segundo os proprietários, receberá as respectivas indemnizações.

Possivelmente irá lugar a mais uma agência bancária, ou uma loja de trapos. Livraria, com toda a certeza, não será.

Foi na Livraria Portugal que comprei, entre tantos outros livros, Os Poemas Possíveis de José Saramago.
 aNesse dia, ao meu lado o peta António Manuel couto Viera sobraçava alguns livros e entre pude ver o livro de Saramago. Era Setembro de 1966 a findar, e lá fora chovia.

Quantas livrarias, em Lisboa já vi fecharem as portas?

Cada uma que fecha, leva-me para aquela ambiência criada pela escritora norte-americana, Helen Hanff, no seu livro 84, Charing Cross Road  em que revela a correspondência que manteve, ao longo de vinte anos, de continente a continente, com os empregados de uma livraria dessa mítica rua londrina.

Nunca li o livro de Helen Haniff, mas vi a adaptação que David Hugh James realizou.

O filme em português chama-se A Rua do Adeus tem interpretação de Anthony Hopkins e Anne Brancoft e dele transborda uma imensa ternura e amor pelos livros, uma livraria, uma porta com um sininho que chocalha cada vez que entra um cliente e que é o único ruído, para além do folhear das páginas dos livros, que rompe o silêncio daquele santuário.

A notícia do encerramento da Livraria Portugal magoa e deixa profundas marcas.

Aos poucos, as livrarias vão morrendo.

Nós, um pouco com elas.

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