terça-feira, 17 de janeiro de 2012

OLHARES


Há muito que os meus passos não caminhavam para os lados do Largo do Rato. A última vez que por lá andei, foi por mor dos jacarandás.

Esta fotografia foi tirada nesse Junho de 1980 e mostra a Charcutaria Brasil.

Situada na Rua Alexandre Herculano era uma das mais conceituadas charcutarias de Lisboa, se bem que nos últimos dez anos tivesse entrado em período de algum desleixo e degradação.

Passei por lá ontem, e já não existe.

Fechou em finais de 2009, não consegui obter a data exacta, tinha mais de 70 anos e chegou a empregar 23 trabalhadores.

No seu lugar está, agora, uma dessas lojas, que vão enxameando a cidade, e designadas por Cashconverters, que ostenta nas montras, o tratar-se de um dos líderes mundiais na compra e venda de ouro e jóias.




Lentamente a cidade vai-se descaracterizando.

Há quem diga que é excesso de saudosismo, não digo que não, mas é assim que vamos morrendo.

Italo Calvino, lido em segunda mão, escreveu um dia:

Tomemos as lojas, que constituem o discurso mais aberto, o mais comunicativo que uma cidade pode exprimir: lemos todos uma cidade, uma rua, um bocado de passeio seguindo a fila das suas lojas. Há lojas que são como capítulos de um tratado, lojas como artigos de uma enciclopédia, lojas como páginas de jornais.

Foi ao lado da então Charcutaria Brasil, que nasceu o grupo de teatro A Barraca, fundado em 1975, pela Maria do Céu Guerra, o Mário Alberto, o Helder Costa. 
O Mário Alberto já nos deixou, A Barraca mantém portas abertas no antigo Cinearte.

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