sábado, 21 de janeiro de 2012

JANELA DO DIA


Por norma os fins-de-semana são dias parcos em notícias, os políticos os fala-barato, vão arejar e, apenas ficam as outras notícias, normalmente mortes outras tragédias, por vezes, um acontecimento feliz.
É um tempo propício para colocar à janela o que, nos últimos dias fui lendo pela concorrência.


1.

Cavaco diz que as reformas dele não chegarão para pagar despesas.
Palavras para quê? É um artista português. Pode-se bater mais fundo? Todos os dias se confirma que sim.
Adenda: para quem acredita ainda em fadas. As reformas de Cavaco totalizaram 10042 euros por mês em 2009. Portanto, mentiu descaradamente. Outra coisa extraordinária na declaração de Cavaco é ele ter sugerido que abdicou de forma benemérita do seu salário de presidente, sendo apenas um mísero reformado. A expressão popular adequa-se: parem de gozar com a cara das pessoas.

Sérgio Lavos no Arrastão

2.

Enfim, cada um carrega a sua cruz como pode. De facto, não há mesmo necessidade, Sr. Presidente. Não sou curioso. Pronto, tudo bem. O que ganha não lhe chega. Teima em dizer-me isso contra a minha vontade. Olhe. Já lhe disse que não quero saber do assunto para nada, mas já que insiste na conversa, que me envolve no assunto, que me vem perturbar com a ladainha, que quer encharcar o meu lenço com as suas lágrimas, que põe a sua vida às minhas costas contra a minha vontade, agora sou eu que lhe pergunto: o que raio faz ao dinheiro?

Rui Rocha no Delito de Opinião

 3.

O cidadão Aníbal Cavaco Silva, a quem alguns (não muitos) portugueses deram o emprego de Presidente da República diz que o país estará «certamente melhor» com este acordo de concertação social. Sabendo-se o quanto ele “contribuiu” para a sua concretização... não me espanta. Era o que eu esperava.
Já do que não estava à espera é que o sem-vergonha tivesse o topete de declarar em público, não só que a sua reforma dificilmente lhe dará para pagar as despesas, como será de cerca de 1300 euros,. uma mentira obscena, facilmente desmontável por quem saiba fazer as contas.
Enquanto fico a remoer o que gostaria de chamar-lhe... confesso, contrariado, que subestimei o nível de repugnância que este ser desprezível pode causar.

Samuel em O Cantigueiro

4

Os lamentos de Cavaco revelam o seu sentimento de revolta ao ver a brilhante carreira contributiva de Dias Loureiro, Eduardo Catroga, Duarte Lima, Ângelo Correia, Ferreira do Amaral, e tantos, tantos, outros…
A sua inveja revela o centro das suas preocupações. Cavaco não percebe que, mesmo se a sua reforma fosse de 1.300€ (que é mentira!), estaria muito longe da miséria. Lamentar-se por receber três vezes mais da pensão média ajuda-nos a perceber o seu desfasamento com a realidade do país.
É urgente traduzir a palavra impeachment e começar a tratar da sua reforma política.

Tiago Mota Saraiva no 5 Dias

5.

Cavaco aufere rendimentos anuais que o colocam no último percentil nacional (o tal 1% do topo de que agora se fala). Ao afirmar que estes rendimentos não chegam para as despesas, Cavaco exemplifica bem o autismo social da sua economia, política e moral. Indica também como estas elites políticas reaccionárias parecem ter sempre os olhos postos no peixe capitalista bem graúdo com quem convivem, seja a nível nacional, seja a nível internacional, tomando como suas as expectativas, hábitos e também os interesses destes. Só assim se compreende...

João Rodrigues Ladrões de Bicicletas

6.

É o retrato do momento que vivemos neste protectorado à beira-mar plantado: um Presidente da República em estado de troika que, coitado, diz que aquilo que receberá das reformas da Caixa Geral de Aposentações e do Banco de Portugal «não vai chegar para pagar as despesas». Ora, só de pensões dos diversos cargos que ocupou, Sua Excelência recebeu, no ano passado, 141 mil euros brutos. É a miséria escondida, nem sei que vos diga. Adiante. Se virem por aí o homem num albergue nocturno, numa calçada ou numa sopa dos pobres, tenham uma atençãozinha para com ele. Afinal, ele foi um dos que nos trouxe até aqui. E seríamos ingratos se não tívessemos memória.


7.

O discurso de ano novo do Presidente tem sido uma oportunidade de ouro para os portugueses distraídos perceberem melhor o seu país. Os cidadãos do país cujos salários estão entre os mais baixos da Europa e cuja taxa de desemprego é das mais altas, interrogam-se periodicamente acerca dos tempos em que vivem. Serão estes tempos muito fáceis, ou apenas moderadamente fáceis? Por sorte, todos os anos, o Presidente da República revela os resultados da análise exaustiva que fez a Portugal e comunica a todos que, na sua opinião, estes tempos são difíceis. E trazem consigo dificuldades. Claro que os cidadãos menos sofisticados protestam que assim também eles fazem previsões, porque é evidente que os tempos estão difíceis uma vez que vivemos em Portugal, e isto está difícil desde 1143. Não reparam que o diagnóstico de Cavaco é mais completo do que isso. Não são apenas tempos difíceis: são tempos difíceis repletos de dificuldades, subtileza que costuma escapar aos analistas. Além disso, mesmo em tempos de crise, Cavaco consegue transmitir uma mensagem de esperança - e de poupança. Numa altura em que se fala tanto de corte de custos, Cavaco sugere, com o seu discurso, que a figura do Presidente pode ser substituída por um gravador. De cinco em cinco anos, os cidadãos votariam na marca de pilhas a colocar no aparelho. E, no primeiro dia de cada ano, a maquineta anunciava dificuldades difíceis, sem cobrar salário nem auferir reforma. E ainda dizem que Cavaco Silva não aponta caminhos e soluções.

Ricardo Araújo Pereira na Visão


Legenda: a ilustração foi tirada de A Devida Comédia

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