quinta-feira, 28 de março de 2019

OLHARES


Não sou fã de Leitão Assado.

Os pés deslocam-se rapidamente para uns tordos fritos, um cabritinho assado no forno, mas pouco ou nada por leitão assado.

Como um ou dois pedaços da parte das costelas e isso já é matéria suficiente para deitar abaixo uma garrafa de espumante… ou duas…

O Leitão Assado que se pratica na região da Bairrada já está generalizado por tudo o que é sítio.

Aconteceu o mesmo com o pão.

Qualquer baiúca, apetrechada com um forno forno eléctrico, diz-nos  que vende pão alentejano ou de Mafra, do que calhar e der jeito.

Quando os jogos de futebol eram às três da tarde, uma ida a Aveiro para ver o Benfica jogar com o Beira-Mar, ou a Coimbra para ver a Académica, metia sempre almoçarada na Bairrada. 

Percorremos grande parte desses restaurantes, mas na memória ficou um leitão assado no Virgílio, comido às dez e meia da manhã, com o reco a sair triunfalmente do forno.

Mas um dia o Carlos Garrudo chegou-se ao grupo-jantarista-das-últimas-sextas-feiras-de-cada-mês, e com aquela seriedade que o caracteriza, falou-nos, quase clandestino, da urgência em ir comer um leitão assado a uma casa em Sangalhos recomendada pelo seu amigo e vinicultor Luís Pato que, sempre que organiza reuniões para lançamento dos vinhos e espumantes que produz, manda vir o leitão assado dessa tal casa.

A casa chama-se Restaurante Mugasa e fica no Largo da Feira na aldeia da Fogueira, junto a Sangalhos.

De facto nunca comi leitão como o do Mugasa.

Guardei a excelência do bicho.

Mas a opinião minha não oferece grandes garantias porque, a abrir, declarei que não sou fã do leitão assado. O que já não acontece com o Luís Miguel Mira, o Carlos Garrudo, a Aida, a Cristina, a exigente Cristina, verdadeiros adeptos do Leitão assado, que ficaram extasiados.

No Mugassa os recos não têm mais de quatro quilos e são assados em brasas de sarmentos de vides.

A primeira ida ao Mugasa terá ocorrido nos primeiros anos do corrente século.


Um dia, ao folhear o suplemento Fugas do Público, 24 de Fevereiro de 2018, deparei com um artigo assinado por Pedro Garcias titulado  «O melhor leitão e os vinhos da Bairrada que enfeitiçam.»

Ao longo do texto, o autor identifica-se como um duriense enfeitiçado pela Bairrada e com um toque de honestidade adianta que «Uma boa parte do que se produz na Bairrada será sofrível. Mas o que é bom é mesmo bom.»

O melhor estava guardado para o final do texto:

«Quer saber onde se come o melhor leitão? No Mugasa, claro.»

 Escreveu Baudelaire, que a crítica deve ser parcial e apaixonada.

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