segunda-feira, 11 de março de 2019

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Sartre realça o poder que a música pode exercer sobre a angústia.

«Madeleine, que quer ser amável para mim. Grita-me de longe, mostrando-me um disco:
«O seu disco, Sr. Antoine, aquele de que o senhor gosta; quer ouvi-lo pela última vez?»
«Pois sim, se faz favor.»

A voz da negra eleva-se.

«Some of these days», chama-se a canção.

«E, nesse momento preciso, do outro lado da existência, nesse outro mundo que se pode ver de longe, mas sem nunca lá chegarmos, uma medodiazinha pôs-se a dançar e a canta: «E como eu que se deve ser; é preciso sofrer a compasso.»

A náusea será vencida?

«… não se trata já duma doença nem dum acesso passageiro: a Náusea sou eu.»

Sartre fumava cachimbo, Também andou por outros caminhos fumegantes.

Terei lido A Náusea em finais de 1976.

Lembro-me da sensação. Das imediatas releituras que fiz para me aperceber melhor do que andava por aquelas páginas.

Comprei-o na Livraria Anglo-Americana, no Cais do Sodré, onde agora está a Caneças, uma boutique do pão. Custou-me 45 escudos, preço a lápis colocado na primeira folha pelo Eduardo Olímpio, que durante muitos anos ali trabalhou.

Voltei, agora, a pegar no livro.

Continuo sem apanhar tudo.

Não me importo muito.

Sempre estiva mais ao lado de Camus do que de Sartre, mas considero A Náusea um livro surpreendente, infernal.

«Amanhã vai chover sobre Bouville».

Teremos sempre o nosso caminho.

«Uma noite bem dormida, uma só, chegaria para me varrer da cabeça todas estas histórias».


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