Sartre realça o
poder que a música pode exercer sobre a angústia.
«Madeleine, que quer ser amável para mim. Grita-me de
longe, mostrando-me um disco:
«O seu disco, Sr. Antoine, aquele de que o senhor
gosta; quer ouvi-lo pela última vez?»
«Pois sim, se faz favor.»
A voz da negra
eleva-se.
«Some
of these days», chama-se a canção.
«E, nesse momento preciso, do outro lado da
existência, nesse outro mundo que se pode ver de longe, mas sem nunca lá
chegarmos, uma medodiazinha pôs-se a dançar e a canta: «E como eu que se deve
ser; é preciso sofrer a compasso.»
A náusea será
vencida?
«… não se trata já duma doença nem dum acesso
passageiro: a Náusea sou eu.»
Sartre fumava
cachimbo, Também andou por outros caminhos fumegantes.
Terei lido A
Náusea em finais de 1976.
Lembro-me da
sensação. Das imediatas releituras que fiz para me aperceber melhor do que
andava por aquelas páginas.
Comprei-o na
Livraria Anglo-Americana, no Cais do Sodré, onde agora está a Caneças,
uma boutique do pão. Custou-me 45 escudos, preço a lápis colocado na primeira
folha pelo Eduardo Olímpio, que durante muitos anos ali trabalhou.
Voltei, agora, a
pegar no livro.
Continuo sem
apanhar tudo.
Não me importo
muito.
Sempre estiva
mais ao lado de Camus do que de Sartre, mas considero A Náusea um livro
surpreendente, infernal.
«Amanhã vai chover sobre Bouville».
Teremos sempre o
nosso caminho.
«Uma noite bem dormida, uma só, chegaria para me
varrer da cabeça todas estas histórias».
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