Folhas Soltas da Seara Nova
(1929-1955
Irene Lisboa
Antologia,
prefácio e notas: Paula Morão
Capa: reprodução
de uma aguarela de Lisboa de Carlos Botelho
Biblioteca de
Autores Portugueses
Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, Abril de 1986
Um dos meus defeitos, das minhas virtudes, das minhas
disposições, enfim, é este de olhar, de me demorara sobretudo a olhar, e até
mesmo a ouvir, e depois ter uma ideia… uma ideia sem base nenhuma, uma
fantasia, um disparate de ideia. Por exemplo: olho por aí fora… distraída não
estou, mas olho; lanço a vista por cima dos telhados inchados das boas casas da
minha vizinhança. Está um dia nevoento. Pouca coisa vejo. Mas uma palmeira que
se baloiça e se despeja para além deste meu mais próximo telhado, toda em fios
soltos e esbranquiçados, movediços, dá voltas comigo; instalo-me nela. E à sua
custa quero-me tornar lembrada de velhos gostos, de passadas idades. E tanto
quero como deixo de querer.
Quero, e talvez não possa…
Sem comentários:
Enviar um comentário