A Truta
Roger Vaillland
Tradução: Gina
de Freitas
Capa: Infante do
Carmo
Colecção Dois
Mundos nº 95
Pagámos e saímos. Durante o trajecto do Café de Paris
à moradia, não falámos. Perguntei a mim próprio do que falaria ele com
Frédérique. Do que é que se pode falar com Frédérique? O que é que Frédérique
lê? A Frédérique talvez não leia. Não sei nada a respeito dos gostos de
Frédérique. Conhece bem as trutas, mas que género de sentimentos nutre ela
pelas trutas? Reparei que pensava em Frédérique em termos de animal. Ela é um
bicho de respiração lenta e sangue quente. Coberta de lã? De seda? Um puma?
Antes um animal de um ramo divergente da evolução, um tarseiro da Malásia, um
lamuriano de Madagáscar. Não me aborrecia mesmo nada ser obrigado a pensar em Frédérique
em termos de animal. A psicologia, falsa ciência, má literatura. Saberei tudo
de de Frédérique quando for capaz de indicar o seu animal, a sua planta, o seu
mineral. Voltei-me para Rambert e disse-lhe:
- Não imaginas o prazer que tenho em saber que a
Frèdérique te faz andar à nora.
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