Há um texto em
que fala de ter um emprego das nove às cinco ou viver como se quer. «Vou ter
prazer na vida, fazer o que bem entendo.» Isso decide-se assim?
Não, são coisas que aparecem. E depois houve o 25 de Abril, que deu dinheiro a muita gente, não só a mim. Não é escolha, é feitio, são acasos. A vida é muito variada.
Mas parece uma opção, até porque saiu daquele emprego seguro na Direcção-Geral de Espectáculos.
Adorava desempregar-me. O Nicolau Santos, que foi director do Diário Económico (DE) e que agora é vice-director do Expresso, pagou adiantado e convidou-me a ir para o DE. Havia uma página de regabofe, de crítica de cinema, uma coisa de artes. Durante meses escrevi para lá. Aquilo era pago, primeiro, a 30 contos. O que era muito bom na altura. Mais tarde passou para 35 contos. Depois disseram-me que fazia parte de uma grupo que ia ser saneado no jornal. O Nicolau perguntou-me se não queria ir para o Público e saí do DE. Quando lá cheguei, disseram-me que não podia escrever como escrevia. Era na revista, onde estavam o Lobo Antunes e um psiquiatra qualquer. Davam-me 50 contos por crónica.
Quanto tempo durou essa colaboração?
Trabalhei lá até o Nicolau sair. Houve qualquer merda lá no Público, gajos despedidos, e ele saiu. Estive no Público com outros novos colaboradores e era ‘escritor e polemista’. ‘Ai querem que eu vá para aí fazer sangue?’ Tinha jeito para a porrada, sim…
Era uma espécie de Vasco Pulido Valente bolchevique.
Era. Mas só dei porrada em dois gajos. No Esteves Cardoso, porque, de repente, tinha um nome muito acima do que vale. Não é mau rapaz, mas é um bocado pateta. E dei a outro, que não conheço pessoalmente, o José Eduardo Agualusa. Um gajo que lá havia, o [Torcato] Sepúlveda fez-lhe uma punheta, escreveu sobre o romance dele, Nação Crioula. E então pensei: ‘Este gajo, o Sepúlveda, não vê que o outro é um aldrabão?’. Vai daí, dei uma porrada ao Agualusa, mas a porrada era também para o outro. Isso deu-me gozo, fiz o gosto ao dedo.
Mas foi-se embora outra vez.
Depois saiu o Nicolau, e eu, nem é tarde nem é cedo, escrevi-lhe: ‘Não somos siameses mas você é que me meteu no Público. Você sai, eu também saio’. Agora, o gozo que dá um gajo abandonar o emprego…
Esteve muito tempo na Direcção-Geral dos Espectáculos.
Entrei em 1957 e estive lá 14 anos. Como é que se arranja empregos? É por conhecimentos. O meu pai era amigo de um chefe de secretaria e foi lá comigo. Iam abrir seis vagas em Janeiro. Fui logo a correr. Tinha a vantagem do cartão da Inspecção, que permitia chegar a um cinema, a um teatro, ou a uma praça de touros, e entrar.
E a saída, como foi?
Outra grande alegria. Fui lá uma manhã e escrevi um requerimento ao ministro a pedir a demissão.
Porquê?
Já não podia ver aquela merda. O chefe de serviço até me perguntou: ‘Então o senhor Pacheco está a fazer mais um livro?’ De repente, ganha-se asco aos ambientes.
Não, são coisas que aparecem. E depois houve o 25 de Abril, que deu dinheiro a muita gente, não só a mim. Não é escolha, é feitio, são acasos. A vida é muito variada.
Mas parece uma opção, até porque saiu daquele emprego seguro na Direcção-Geral de Espectáculos.
Adorava desempregar-me. O Nicolau Santos, que foi director do Diário Económico (DE) e que agora é vice-director do Expresso, pagou adiantado e convidou-me a ir para o DE. Havia uma página de regabofe, de crítica de cinema, uma coisa de artes. Durante meses escrevi para lá. Aquilo era pago, primeiro, a 30 contos. O que era muito bom na altura. Mais tarde passou para 35 contos. Depois disseram-me que fazia parte de uma grupo que ia ser saneado no jornal. O Nicolau perguntou-me se não queria ir para o Público e saí do DE. Quando lá cheguei, disseram-me que não podia escrever como escrevia. Era na revista, onde estavam o Lobo Antunes e um psiquiatra qualquer. Davam-me 50 contos por crónica.
Quanto tempo durou essa colaboração?
Trabalhei lá até o Nicolau sair. Houve qualquer merda lá no Público, gajos despedidos, e ele saiu. Estive no Público com outros novos colaboradores e era ‘escritor e polemista’. ‘Ai querem que eu vá para aí fazer sangue?’ Tinha jeito para a porrada, sim…
Era uma espécie de Vasco Pulido Valente bolchevique.
Era. Mas só dei porrada em dois gajos. No Esteves Cardoso, porque, de repente, tinha um nome muito acima do que vale. Não é mau rapaz, mas é um bocado pateta. E dei a outro, que não conheço pessoalmente, o José Eduardo Agualusa. Um gajo que lá havia, o [Torcato] Sepúlveda fez-lhe uma punheta, escreveu sobre o romance dele, Nação Crioula. E então pensei: ‘Este gajo, o Sepúlveda, não vê que o outro é um aldrabão?’. Vai daí, dei uma porrada ao Agualusa, mas a porrada era também para o outro. Isso deu-me gozo, fiz o gosto ao dedo.
Mas foi-se embora outra vez.
Depois saiu o Nicolau, e eu, nem é tarde nem é cedo, escrevi-lhe: ‘Não somos siameses mas você é que me meteu no Público. Você sai, eu também saio’. Agora, o gozo que dá um gajo abandonar o emprego…
Esteve muito tempo na Direcção-Geral dos Espectáculos.
Entrei em 1957 e estive lá 14 anos. Como é que se arranja empregos? É por conhecimentos. O meu pai era amigo de um chefe de secretaria e foi lá comigo. Iam abrir seis vagas em Janeiro. Fui logo a correr. Tinha a vantagem do cartão da Inspecção, que permitia chegar a um cinema, a um teatro, ou a uma praça de touros, e entrar.
E a saída, como foi?
Outra grande alegria. Fui lá uma manhã e escrevi um requerimento ao ministro a pedir a demissão.
Porquê?
Já não podia ver aquela merda. O chefe de serviço até me perguntou: ‘Então o senhor Pacheco está a fazer mais um livro?’ De repente, ganha-se asco aos ambientes.
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