O Sabor das Trevas
José Gomes
Ferreira
Capa: Gil
Perdigão
Diabril Editora,
Lisboa Novembro de 1976
- E agora? – inquiriu Tuninguém desorientada, com a
pele bem junta a Nóseu para lhe ouvir bater a nudez do coração ardente.
Ambos falavam em surdina na escuridão, receosos de que
as palavras ditas em tom mais alto perdessem o mistério.
- Agora vamos assistir a novo Recomeço.
Exclamação interrogativa perplexa:
- Já houve outros?
- Não é uma hipótese a excluir – adiantou Nóseu, inseguro.
– A Terra é uma bola de naufrágios e não me custa admitir que no nosso planeta
existam, enterrados, restos de civilizações mortas em que o Homem se foi
aperfeiçoando através de catástrofes tremendas no tempo sem limites… Vamos
porventura entrar nas últimas fases, justamente nas mais dramáticas e difíceis.
As da construção da Sociedade Justa em que dominará a Fraternidade e a Justiça,
derradeiros alvos da nossa missão neste pequenina e infinita nesga de estrelas
e nebulosas que nos pertence por direito de luta de «primatas excedidos».
- Mas isso é uma utopia.
- Talvez. Mas…
Sem comentários:
Enviar um comentário