Por onde passaste
tu
que não soubeste
passar?
Pela sandália do
tempo
pelo cílio do luar
pelo cilício do
vento
pelo tímpano do
mar?
Por onde passaste
tu
que não soubeste
passar?
Por onde passaste
tu
que me ficaste cá
dentro
tenaz do fogo
divino
irmão pinho ou
aloendro?
Por onde passaste
tu
que me ficaste cá
dentro?
Pois bem: nos
campos da fome
ou nos caminhos do
frio
se eu encontrasse
o teu nome
lançava-te o
desafio:
por onde passaste
tu
pétala viva dos
pobres
Irmão dos cardos
dos cerdos
rei das chagas e
dos podres
- por onde
passaste tu
não passaram as
minhas dores!
Nasci da mãe que
não tive
do pai que nunca
terei
e aquilo que
sobrevive
é o irmão que não
sei:
uma espécie de
fogueira
de corpo que me
deslumbra.
Tudo o mais à
minha beira
é uma réstia de
sombra.
- Por onde
passaste tu
com artelhos de
penumbra?
Eis-me. Eis-me
incendiado
por não saber
perdoar.
Meu irmão passa de
lado
- Eu sei como
hei-de passar.
José Carlos Ary dos Santos de Resumo em
Vinte Anos de Poesia
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