terça-feira, 19 de março de 2019

DITO A MEU PAI EM TEMPO DE AGONIA



1.
A tua tristeza delicada
o teu cabelo enfim branco

as cadeiras onde te sentas
com um jornal no regaço

o amor violento a breve zanga
desapontada

esse marégrafo no paredão
para medir os meus agravos

2.
A poesia que por ti
em certas noite soluçava

a tua letra já molhada
despedaçando-se na mata

a saudade bordada a fio grosso
no camuflado

o olhar brando e tudo o que não dizes
e eu feito num oito adivinhava

Fernando Assis Pacheco em Variações em Sousa

Legenda: fotografia da revista Time

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