A Poesia Deve Ser Feita Por Todos
Carlos Loures
Cadernos
Peninsulares nº 2
Ulmeiro, Lisboa,
Fevereiro de 1970
Requiem
O monstro agoniza o seu hálito
apodrece
roubando á primavera o claro rosto.
sua carne canceriza a mão
estremece,
mas mata mata sempre o seu
punhal,
que quer ter por sudário o próprio mundo.
esta moribundo o chacal o grito
inunda
a terra de destroços incendiando o vento,
o corpo já vacila o olhar
escurece,
mas mata mata sempre a sua lâmina
que quer amortalhar-se em nossas vidas.
A boca é uma cratera de raiva e pus
Seus pés enterra na argila e no ódio
as flores esmaga no seu mortal orgasmo
e mata mata ainda a sua gládio
Que quer devorar toda a luz no seu estertor
aniquilar o amor destroçar a
esperança
tudo o que é caro à vida quer matar
deixar-nos a morte como herança
Gravar
nas cinzas da paisagem a sua lápide:
Aqui jaz o capital
em sangue amanhecido em
sangue anoiteceu,
fez todo o mal que pôde,
depois
morreu
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