domingo, 10 de março de 2019

OLHAR AS CAPAS



A Poesia Deve Ser Feita Por Todos

Carlos Loures
Cadernos Peninsulares nº 2
Ulmeiro, Lisboa, Fevereiro de 1970

Requiem

O monstro agoniza   o seu hálito apodrece
roubando  á primavera o claro rosto.
sua carne canceriza    a mão estremece,
mas mata   mata sempre o seu punhal,
que quer ter por sudário o próprio mundo.
esta moribundo o chacal   o grito inunda
a terra de destroços incendiando o vento,
o corpo já vacila   o olhar escurece,
mas mata mata sempre a sua lâmina
que quer amortalhar-se em nossas vidas.
A boca é uma cratera de raiva e pus
Seus pés enterra na argila e no ódio
as flores esmaga no seu mortal orgasmo
e  mata   mata ainda a sua gládio
Que quer devorar toda a luz no seu estertor
aniquilar o amor   destroçar a esperança
tudo o que é caro à vida quer matar
deixar-nos a morte como herança   Gravar
nas cinzas da paisagem a sua lápide:
Aqui jaz o capital
em sangue amanhecido   em sangue anoiteceu,
fez todo o mal que pôde,
                                        depois morreu

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