O filme de
Joseph Losey estreou em Portugal a 15 de Julho de 1983 no Cinema Hollywood,
antes chamou-se ABCine, duas salas no Centro Comercial Alvalade, que ainda
existe mas agora sem qualquer sala de cinema.
O filme apenas o
vi a 28 de Janeiro de 2002 numa sessão na Cinemateca.
Esta é Folha da
Cinemateca em que o excelente homem de cinema, Manuel Cintra Ferreira, escreve
sobre o filme de Losey.
Há livros que na
visão ligeira que deles faço, concluo que não poderão dar um filme. Nesse ponto
estão os romances de Roger Vailland, e adianto desde já «A Truta.»
Mas isso é o
pobre de mim a pensar.
Losey não se fez
rogado e avançou.
O filme não me
entusiasmou e, apesar de o livro não ser daquela colheita Vailland em que
aprendi a gostar, inclino-me mais para o livro.
Há quem declare
que Roger Vailland é um autor datado.
Não vou por aí.
Recordo as
conversas de então: «um assalariado, seja qual for o salário, ganha sempre
um pouco menos do que precisa» e para que não houvesse qualquer dúvida, acrescentava-se:
regra segundo São Roger Vailland.
Roger Vailland
esteve três vezes em Portugal.
As duas
primeiras em reportagem; a terceira como membro da Resistência à ocupação da
França pelos exércitos de Hitler,
Sobre o olhar
pelo país em «A Lei», inventa o verbo «portugalizar».
«Entre 1904 e
1914, entre os seus vinte e trinta anos, viajara nas férias universitárias por
toda a Europa a fim de rematar a educação, segundo o desejo do pai. Voltando
certo Verão de Londres para em Valência embarcar rumo a Nápoles, demorou-se
alguns dias em Portugal. Fizera a si mesmo mil perguntas sobre o declínio desta
nação cujo Império se alargara a todo o globo. Conheceu escritores que não
escreviam para ninguém; homens políticos que governavam para os ingleses;
homens de negócios que liquidavam as feitorias do Brasil e viviam de rendas
exíguas nas cidades da província, sem qualquer objectivo. Concluiu que a pior
das desgraças era nascer português. Em Lisboa e pela primeira vez na vida
travara encontro com um povo que se tinha desinteressado.»
Na nota
introdutória a «Esboço Para um Retrato do Verdadeiro Libertino», Vitor
Silva Tavares anota:
«Prazer; jogo; razão; liberdade – eis a infraestrutura
geométrica do retrato do libertino segundo Vailland.»
Pegando em «A Roda da Fortuna» saco estas passagens:
«Mesmo no Inverno dormia nua. Bastava-lhe um pouco de álcool para não sentir frio.»
«Gozar a vida – disse Milan – é como um ofício, tem de se aprender. Mas é talvez preciso começar muito cedo».
«- Continua a pensar que a sua mãe não tinha razão? – perguntou Helena
- Cada vez mais – diz Roberta – É muito menos humilhante dobrar a espinha ante as injúrias da nossa mãe, mesmo que seja prostituta, do que passar uma única noite com um homem que não amamos.
- Mas podia trabalhar, diz Helena.
-Não – diz Roberta – Fazer um trabalho que não agrada é tão humilhante como dormir com um homem que nos repugna.»
«Minha filha, nunca se deve dizer a um homem que o enganámos. Mesmo que aceitasse a tua infidelidade, mesmo que a encorajasse, o que é certo é dez anos mais tarde se serviria da tua confissão como de uma arma contra ti. Nega mesmo a evidência. Foi a única coisa razoável que me ensinou a minha abominável mãe»
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