sexta-feira, 8 de março de 2019

NÃO VALE A PENA CHEGAR AOS 70 E 80!


A última entrevista da colectânea O Crocodilo Que Voa foi feita por Ricardo Nabais e Vladimiro Nunes e publicada no semanário Sol em Janeiro de 2008.
Com algumas passagens desta entrevista, despedimo-nos deste Luiz Pacheco que durante algum tempo fartou-se de gozar com as larachas – e não só! – com que entretinha aquele pessoal dos jornais e revistas que, em busca de sensacionalismo invadiram os lares de idosos por onde Pacheco passou os últimos anos de vida. Claro que há excepções. Alguns que o foram entrevistar leram-lhe os livros, sabiam dos seus percursos
A entrevista é delirante.
Aliás, este juntar de entrevistas em livro é um material que não pode ser dispensado por quem queira conhecer as muitas das facetas da vida bem remendada da Pachecal Figura.

«O Luiz Pacheco também já deu algumas golpadas.

Já dei algumas.


Qual foi a pior?

Isso não posso dizer. E também não se avalia assim.

Qual a que lhe deu mais gozo?

Deram-me todas muito gosto. Tive aí uma actividade durante 50 anos [como editor da Contraponto]. O gosto que tenho é nos livros que vendi a cinco ou a 20 paus e hoje valem contos de réis. Também assinados, com dedicatórias, numerados. Agora é uma senhora, cunhada do Manuel Alegre, uma jornalista, que está outra vez a fazer edições da Contraponto.

Um dos últimos livros que o Pacheco editou foi Villa Celeste, de Hélia Correia, em 1999.

Ela agora fez um romance.

E tem publicado vários livros na Relógio D’Água.

Está a ter mais nome, até ganhou um prémio, parece-me. Já não a vejo há muito tempo. Quando eu estava em Palmela, foi lá com o marido, aquele rapaz dramaturgo, do Público, que também foi premiado… o Jaime Rocha… Ela escrevia lá para as Azenhas do Mar, porque gosta de ambientes húmidos. É gira. E um bocado tosca, maluca…

Mas era uma das escritoras novas de que o Luiz Pacheco mais gostava.

Era sim senhor.

Até porque entretanto já se tinha fartado do Pedro Paixão e do Miguel Esteves Cardoso.

O Pedro Paixão ainda é vivo, esse gajo?

É. E o Miguel Esteves Cardoso também.

Esse é um estupor. Ele, a mãe e o pai. É o gajo da televisão, não é?

Não. Esse é o Miguel Sousa Tavares.

Pois é. Desculpem. Não, do Esteves Cardoso gostava muito. Era um gajo giro. Depois fez aquela laracha d’ O Amor é Fodido. Os livreiros até tapavam o título. Conheço dois que taparam. Ele está a fazer o quê? Engordou muito, não foi?


Voltou a fazer crónicas para o Expresso, mas sem o mesmo sucesso de antigamente.

Nunca gostei muito dele em crónicas. Nunca me convenceu muito. Já o topava desde o Independente. Depois esteve numa revista com graça, a K.»

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