A
história é simples.
Filhos:
havia um rapaz, chegou uma rapariga.
Eu
saia às 5 da tarde do escritório de import-export onde trabalhava, a Aida saia
da loja de trapos, onde trabalhava, às 19,30 horas.
A
conversa foi assim:
- Ou vais buscar os
miúdos à tua mãe, ou vais às compras e passas a fazer as refeições.
Optei
pelas compras e pelas refeições.
Passei
a gostar de ir às compras, aprendi, lentamente, a fazer comidas.
Na
casa, apenas existia um livro Doces e Cozinhados de Isalita, editado pela
Livraria Sá da Costa, 24 ª edição «inteiramente refundida e ampliada, editado
em Setembro de 1972. O livro resulta do trabalho de duas amigas que entenderam
publicar os seus conhecimentos culinários e receitas diversas, as amigas
chamavam-se Maria Isabel de Sousa Campos Henriques e Angela Carvajal y Pinto Leite
Telles da Silva e o nome «Isalita»
resultou da abreviação de Isabel e Angelita.
Tinha
lá quase tudo mas, aos poucos comecei a comprar outros livros de receitas,
hoje, a Biblioteca da Casa, tem para cima de meia centena de livros de receitas
e dicas culinárias.
Pelo
meio há uma frase do jornalista Rodrigues da Silva:
«…em miúdo, atraído pelo cheiros e antegozando os sabores, metia o bedelho na cozinha, minha mãe corria comigo de lá, dizendo-me assim: «Aprende a fazer o refogado, que depois mexes no tacho».
A
minha infância está marcada pela minha avó Brígida na cozinha, a fazer milagres
com o muito pouco dinheiro que havia, o resto era o que a mercearia fiava.
Comidas
muito simples, quase sempre a mesma coisa, o bacalhau era então barato e era a
base de quase tudo, o resto era feijão guisado com ovos escalfados, esparguete
com chouriço e toucinho e apenas a variante de galinha no forno, num único domingo
por mês, o que estava perto do fim do mês, tempo de receber o ordenado.
Isto
vai chamar-se Olhar Panelas, Frigideiras, Tachos… e vai caber tudo e
mais alguma coisa.
Há
uma ternurenta imagem desses tempos, o meu avô Mário, sentado no maple, manta
nos joelhos, com o gato Trafaria, a ver o programa de culinária, a preto e branco,
da Maria de Lurdes Modesto, e eu sentado ao lado.
Um
homem não chora?
E
há uma frase de Jorge Calado lida não lembro onde:
«O primeiro sintoma duma cultura é a culinária. Diz-me o que comes, dir-te-ei quem és.».
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