sábado, 11 de outubro de 2025

OLHAR FRIGIDEIRAS, TACHOS, PANELAS


A história é simples.

Filhos: havia um rapaz, chegou uma rapariga.

Eu saia às 5 da tarde do escritório de import-export onde trabalhava, a Aida saia da loja de trapos, onde trabalhava, às 19,30 horas.

A conversa foi assim:

- Ou vais buscar os miúdos à tua mãe, ou vais às compras e passas a fazer as refeições.

Optei pelas compras e pelas refeições.

Passei a gostar de ir às compras, aprendi, lentamente, a fazer comidas.

Na casa, apenas existia um livro Doces e Cozinhados de Isalita, editado pela Livraria Sá da Costa, 24 ª edição «inteiramente refundida e ampliada, editado em Setembro de 1972. O livro resulta do trabalho de duas amigas que entenderam publicar os seus conhecimentos culinários e receitas diversas, as amigas chamavam-se Maria Isabel de Sousa Campos Henriques e Angela Carvajal y Pinto Leite Telles da Silva e o  nome «Isalita» resultou da abreviação de Isabel e Angelita.

Tinha lá quase tudo mas, aos poucos comecei a comprar outros livros de receitas, hoje, a Biblioteca da Casa, tem para cima de meia centena de livros de receitas e dicas culinárias.

Pelo meio há uma frase do jornalista Rodrigues da Silva:

«…em miúdo, atraído pelo cheiros e antegozando os sabores, metia o bedelho na cozinha, minha mãe corria comigo de lá, dizendo-me assim: «Aprende a fazer o refogado, que depois mexes no tacho».

A minha infância está marcada pela minha avó Brígida na cozinha, a fazer milagres com o muito pouco dinheiro que havia, o resto era o que a mercearia fiava.

Comidas muito simples, quase sempre a mesma coisa, o bacalhau era então barato e era a base de quase tudo, o resto era feijão guisado com ovos escalfados, esparguete com chouriço e toucinho e apenas a variante de galinha no forno, num único domingo por mês, o que estava perto do fim do mês, tempo de receber o ordenado.

Isto vai chamar-se Olhar Panelas, Frigideiras, Tachos… e vai caber tudo e mais alguma coisa.

Há uma ternurenta imagem desses tempos, o meu avô Mário, sentado no maple, manta nos joelhos, com o gato Trafaria, a ver o programa de culinária, a preto e branco, da Maria de Lurdes Modesto, e eu sentado ao lado.

Um homem não chora?

E há uma frase de Jorge Calado lida não lembro onde:

«O primeiro sintoma duma cultura é a culinária. Diz-me o que comes, dir-te-ei quem és.».

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