Todos os países esquecem gente.
Uns mais do que outros.
Certamente o nosso é dos que mais esquece.
Adriano Correia de Oliveira morreu no dia 16 de Outubro 1982.
Nas
efemérides redondas aparecem sempre os elogios e as carpideiras.
O
resto dos tempos é um enorme e angustiante silêncio.
A saudade é um luto, a memória um tempo que passa e sempre alguém que diz não.
Adriano
foi o mais autêntico intérprete de um país que esteve em guerra, um país votado
ao abandono, à miséria, à frustração, mas um país onde as suas gentes, num
canto qualquer do seu ser, cuidaram de guardar um naco de esperança.
Claro
que, possivelmente pouco ou nada dirá às novas gerações, mas diz muito àqueles
que o ouviram cantar em tempos dificílimos, em tempos em que ele
conseguiu ser um farol de esperança para o futuro com que sonhávamos.
O
Adriano, ao longo do seu curto tempo de vida, sempre foi desrespeitado e
explorado por uma série de gente. Lembro-me quando quis fazer um single e a
editora torceu o nariz, lembro-me de na Festa do Avante, após s sua morte,
colocarem um auditório com o seu nome, mas percorro os programas das diversas
Festas do Avante e verifico que lhe deram sempre os horários menos nobres, os
palcos mais escondidos. Sabiam que o Adriano nada recusava, nunca se negava a
ir onde ele entendesse que devia estar presente. Lembro-me daquele espectáculo,
no Coliseu, de solidariedade para com os trabalhadores da ANOP, em que não o
deixaram actuar porque disseram que «estava com os copos».
Mesmo
o Partido a que sempre pertenceu, tratou-o sem ponta de respeito e
consideração, rodeou-o de silêncios infames, ele que, segundo Fausto, «foi
o melhor de todos nós».

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