domingo, 12 de outubro de 2025

TRUMPALHADAS


No seu artigo de opinião, ontem no Público, José Pacheco Pereira, escreve que Trump nunca fez nada pela paz, fez tudo pelo Prémio Nobel, o que não é de todo a mesma coisa e adianta dez razões para que Trump nunca, jamais, em tempo algum, deveria ter o Nobel da Paz:

1. Viola todas as leis, organiza a violência, deporta pessoas sem julgamento para prisões em ditaduras que suborna, cria um ambiente de guerra civil.

2. Conduz uma guerra contra aquilo a que chama o “inimigo interno”, os americanos que dele discordam e exercem os seus direitos cívicos debaixo da ameaça de despedimentos, espancamento, prisões. A classificação de “guerra” é dele.

3. Mudou o nome do Departamento de Defesa para Departamento da Guerra, introduzindo uma linguagem bélica nas forças armadas americanas muito para além das ameaças à segurança americana.

4. Conduz uma nova guerra contra a Venezuela a pretexto de combater os cartéis da droga, procedendo a execuções extrajudiciais, e criando um risco, por exemplo, para os pescadores venezuelanos que temem sair para o mar e serem tomados por barcos de drogas.

5. Nunca seria possível Israel ter feito o que fez em Gaza sem o apoio de Trump. O que ele agora diz que quer “remediar” para haver “paz” foi aquilo que ele incentivou, consentiu e a que fechou os olhos. Se há genocídio em Gaza há dois responsáveis: Trump e Netanyahu.

6. Traiu e trairá aos soluços a defesa da Ucrânia de uma invasão estrangeira, impedindo a sua defesa eficaz e estendendo o tapete a Putin, que ameaça sem nunca cumprir. A defesa da paz implica que nunca haverá vantagem para o infractor, e Trump é mais hostil ao invadido do que ao invasor.

7. Ameaçou invadir a Gronelândia, o Canal do Panamá, e outros territórios soberanos, não de forma simbólica, mas real. Nunca afirmou que não usará a força para os subjugar.

8. A maioria das guerras com que ele diz ter “acabado” não sabe quais são, nem se existiam à data em que “acabou” com elas, ou se continuam, haja ou não haja acordo assinado na Casa Branca, apoiado por subornos e ameaças, as suas armas principais. Uma, entre o Egipto e a Etiópia, não existia; outra, entre a Sérvia e o Kosovo, está longe de acabar, embora o truque que ele usa seja chamar “guerras” a todos os conflitos, mesmo que não tenham expressão militar ou que, se a tiverem, se tratem de pouco mais do que escaramuças fronteiriças, que se repetem periodicamente e que tornarão a repetir-se.

9. Nalguns casos, como no conflito entre a Índia e o Paquistão, os responsáveis indianos literalmente gozaram com a afirmação de Trump de que tinha sido ele a “acabar” com o conflito. Na verdade, na Casa Branca devem andar a ver catálogos de conflitos pelo mundo inteiro para que o Presidente tenha mais uma “guerra” com que “acabar”.

10. Sim, acabou com uma guerra, a que disse que existia entre o Camboja e Arménia, como ele afirmou no seu discurso nas Nações Unidas. Acontece que essa guerra não existia, e seria absurda se alguém visse um mapa ou tivesse a mínima noção de geografia. Se houver algum dia uma guerra entre o Camboja e a Arménia, então merece mesmo o Prémio Nobel da Paz porque acabou com ela por antecedência.

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