Será
com certeza o livro mais conhecido, mais lido de Eça de Queiroz.
Grande
parte das edições dos livros de Eça que fazem parte da Biblioteca da Casa, são
os que a Lello & Irmão editaram.
Foi num desses livros que li pelos meus 13 anos, A Cidade e as Serras.
Acontece – e aconteceu algumas vezes – que o livro desapareceu.
Num escritório de import-export, meu primeiro emprego, os processos, volta e meia, não apareciam. O patrão alemão clamava «onde está o processo da Miele?». Silêncio gritado na pequena sala.
Voltava o alemão, sr. Heick de seu nome: «
foi para a praia?»
Por
onde anda o livro do Eça editado pela Lello & Irmão, tantas vezes lido, tantas vezes manuseado?
O
exemplar que agora existe, comprei-o num alfarrabista. A edição do Círculo
informa que o livro tinha uma sobrecapa de Antunes. Mas o alfarrabista garantia
que o livro já o comprara sem a sobrecapa.
Razão
da deselegância desta capa do livro que se publica.
Mas
não sairei sem voltar a ler o pedacinho em que Eça fala do arroz de favas e dos
peitos trementes da «formidável moça, de enorme peitos que lhe tremiam
dentro das ramagens do lenço cruzado»
Que maravilhosos Eça de Queiroz!
«… Santo Deus! Há anos
que não sinto esta fome.
Foi ele que rapou
avaramente a sopeira. E já espreitava a porta, esperando a portadora dos
pitéus, a rija moça de peitos trementes, que enfim surgiu, mais esbraseada,
abalando o sobrado – e pousou sobre a mesa uma travessa a transbordar de arroz
com favas. Que desconsolo! Jacinto, em Paris, sempre abominava favas!... Tentou
todavia uma garfada tímida – e de novo aqueles seus olhos, que o pessimismo
enevoara, luziram procura os meus. Outra larga garfada, concentrada, com uma
lentidão de frade que se regala. Depois um brado:
-Óptimo!... Ah, destas favas, sim! Ó que fava! Que delícia!
E por esta santa gula
louvava a serra, a arte perfeita das mulheres palreiras que em baixo remexiam
as panelas, o Melchior que presidia ao bródio…
- deste arroz com fava
nem em Paris, Melchior amigo!»
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