sábado, 25 de outubro de 2025

CONVERSANDO

Seguem-se palavras  que António Borges Coelho colocou como Nota de Abertura em Crónicas e Discursos.

No topo deste Conversando está a reprodução dos títulos da Bibliografia de Borges Coelho que se pode ler numa das badanas do livro.

Impressionante, simplesmente.

António Borges Coelho deixou-nos há uma semana. Já o disse, nunca troquei uma palavra com ele.

Foi preso pela PIDE em 1956, quando era funcionário do Partido Comunista. Depois de sair da cadeia, seis anos e meio depois, foi proibido de lecionar até ao 25 de Abril. Após o 25 de Abril, escreveu Pedro Tadeu, «dedicou-se a construir uma narrativa plural e crítica, dando voz aos esquecidos da história oficial – mouros, judeus, camponeses, operários. Foi um dos primeiros professores a estabelecer práticas democráticas nas aulas e na governação académica universitária».

Borges Coelho era um transmontano de Murça. Olham-se as suas diversas fotografias e esse mundo mostra uma serenidade, um gosto de viver, uma simplicidade quase única, um saber para além da normalidade do saber.

Atempadamente a Universidade Portuguesa fez a justiça às suas qualidades de pedagogo, que a universidade da ditadura não só ignorou como perseguiu. Permitiu-lhe que passasse a fazer o que sempre gostou: estudar, ensinar.

António Borges Coelho, enquanto preso político no Forte de Peniche, conheceu bem o som do mar, viveu na Parede, quase junto a um rio que é um mar.

De novo o som o ressoar o mar

De novo o embalo do tumulto mais antigo

E a inteireza de instante primitivo

 

De novo o canto o murmurar o mar

Que se repete intacto e sacral

De novo o limpo e nu clamor primordial

Não consegui saber quais os trechos musicais que Borges Coelho gostava de ouvir. Sei que foi profundo admirador de Fernando Lopes Graça, seu camarada e vizinho de rua na Parede. Mas deixei em Música pela Manhã, a canção matinal que Edward Grieg compôs para a peça de Henrik Ibsen Peer Gynt.

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