Uma Campanha Alegre
De «As Farpas»
1º volume
Eça de Queiroz
Lello & Irmão Editores Porto s/d
Junho de
1871
Aproxima-te um pouco de nós, e vê.
O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os
costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem
por única direcção a conveniênci a. Não há princípio que não seja
desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não
existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na honestidade
dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e
na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma
rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao
acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Todo o viver espiritual,
intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se,
envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína
económica cresce, cresce, cresce... O comércio definha, A indústria enfraquece.
O salário diminui. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal
como um ladrão e tratado como um inimigo.
Neste salve-se quem puder a burguesia proprietária de casas explora o aluguel. A agiotagem explora o juro.

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