O tecto fundo de oxigénio, de ar,
Estende-se
ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm
lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me
a quimera azul de transmigrar.
Por
baixo, que portões! Que arruamentos!
Um
parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se
taipais, rangem as fechaduras,
E
os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.
E
eu sigo, como as linhas de uma pauta
A
dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois
sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As
notas pastoris de uma longínqua flauta.
Se
eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse
e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me
a prever castíssimas esposas,
Que
aninhem em mansões de vidro transparente!
Ó
nossos filhos! Que de sonhos ágeis,
Pousando,
vos trarão a nitidez às vidas!
Eu
quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas
habitações translúcidas e frágeis.
Ah!
Como a raça ruiva do porvir,
E
as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,
Nós
vamos explorar todos os continentes
E
pelas vastidões aquáticas seguir!
Mas
se vivemos, os emparedados,
Sem
árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo
avistar, na treva, as folhas das navalhas
E
os gritos de socorro ouvir, estrangulados.
E
nestes nebulosos corredores
Nauseiam-me,
surgindo os ventres das tabernas;
Na
volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Cantam
de braço dado, uns tristes bebedores.
Eu
não receio, todavia, os roubos;
Afastam-se,
à distância, os dúbios caminhantes;
E
sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amarelamente,
os cães parecem lobos.
E
os guardas , que revistam as escadas,
Caminham
de lanterna e servem de chaveiros;
Por
cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem,
fumando, sobre a pedra das sacadas.
E,
enorme. Nesta massa irregular
De
prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A
Dor humana busca os amplos horizontes,
E
tem marés de fel, como um sinistro mar!
Cesário
Verde em O Livro de Cesário Verde
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