Lunário
Al Berto
Lisboa, Dezembro 1999
Sempre levei na bagagem muito pouca coisa” pensou Beno, esticando o pescoço para a frente de modo a seguir o voo sinuosos duma gaivota no enquadramento da janela. “Uma ou duas camisas, t-shirts, dois ou três Pares de calças e uma infinidade de minúsculos objectos que nunca me serviam para nada. Viajei com o absolutamente necessário. E ao chegar a qualquer lugar comprava o que me fazia falta, depois, assim que prosseguia caminho, deitava tudo fora. Sempre achei que o que era útil e indispensável num sítio deixaria de o ser noutro…” Beno estava sentado perto da janela e olhava o mar através dos vidros foscos pela poeira. Desde o seu regresso, tinha o hábito de se sentar ali, como uma obsessão, ao escurecer. Imóvel, o olhar perdido por cima do mar, deixava a memória fiar os acontecimentos, laboriosamente, com o repetido movimento das marés. Não tinha mais nada que fazer.
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