Há 8 anos Eduardo Guerra Carneiro atirou-se para o céu.
Ele foi à cozinha e pôs a cafeteira ao lume para o cafezinho matinal. Entretanto encheu um copo de água e meteu lá dentro o Guronsan para a ressaca. Regressou à sala e ficou-se a olhar para o copo com a pastilha efervescente a dissolver-se lentamente. Liga o rádio enquanto ouve a água do duche a correr.
Ela está no banho, por certo aborrecida por a água não sair tão quente como gostaria. Coisas de prédios antigos! De qualquer forma ele ouve-a cantarolar qualquer coisa em espanhol. Se calhar para disfarçar o frio…
Que noite a de ontem! Foi um fim de ano bastante confuso! Há mesmo coisas de que não se lembra bem. Bebe agora, de um trago, o copo de Guronsan, ajeita melhor ao peito o roupão grená, acende o primeiro cigarro e recorda-se, de súbito, da multidão no Ritz Club, num réveillon estranho, a gritar Feliz Ano Novo, senhor Tabucchi!
Eduardo Guerra Carneiro, início do conto Feliz Natal Sr. Tabucchi!, publicado na revista Ler s/d
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