segunda-feira, 7 de março de 2011

VÍTOR DAMAS, SIMPLESMEMTE!


À boleia de Peter Handke, num bonito romance, que também deu um interessante filme realizado por Wim Wenders, quando penso em guarda-redes ocorre-me sempre a angústia no momento da marcação do penalty. 

Não tem nome de livro ou filme, mas também há a angústia do jogador que tem de marcar o penalty. Lembro-me, há um bom par de anos, de Bebeto,  craque  brasileiro, a falhar, no último minuto, na última jornada, um penalty que, caso tivesse entrado, teria dado ao Deportivo da Coruña o título de campeão  de Espanha.

Portugal sempre teve excelentes guarda-redes. Por ordem preferencial:

Victor Damas
Manuel Galrinho Bento
Costa Pereira, o dos frangos à Costa Pereira
José Henriques, o célebre Zé Gato, “uma provocação vestida de roxo”, como um dia, numa crónica na “Flama”, lhe chamou o poeta Herberto Helder.

Num guarda-redes gosto que ele seja elegante, espectacular, que seja louco.

Os mais antigos “keepers”, tal como se dizia quando eu era puto, que lembro de ter viso jogar:

João Azevedo do Sporting, mas já não com a camisola do Sporting, mas com a do Oriental, o célebre COL do Campo Engº Carlos Salema, na Azinhaga dos Alfinetes.

Barrigana do F. C. do Porto

Martelo do Lusitano de Évora

Cesário do S. C. de Braga

Ernesto do Atlético

José Pereira do Belenenses, o pássaro azu
l
Carlos Gomes do Sporting, que teve de fugir do país por causa de uma série de trapalhadas, que envolviam mulheres e dinheiros, e que acabou a carreira a defender as balizas da equipa de futebol da Polícia de Marrocos.

Mas hoje venho por Vítor Damas

Quando naquele Setembro de 2003, Vítor Damas, com 55 anos, nos deixou, falando com os meus botões, disse que, muito dificilmente, voltaria a ver um guarda-redes como ele e o tempo tem-me dado razão. Também poderá ser que eu queira que os meus olhos não vejam outro guarda-redes como Vítor Damas. Sou assim, e já estou velho para mudar…

Quando soube da sua morte, Eusébio disse de Damas que ele “era um senhor”, e mais ninguém o poderia ser com tanta propriedade, sentimento de coração destroçado, muito poucos o poderiam dizer, pois foi com ele que Vítor Damas protagonizou os mais belos duelos da história do futebol português e ambos, coisas de génios, fazem parte dos ventos lendários dessa história.

Há lugares comuns que se tornam banais, mas não vejo como dizer, eu que gosto de futebol, que 
Damas e Eusébio, entre outras coisas várias, são parte integrante da minha história.

Majestoso, elegante, ágil, espectacular fantástico e, sempre, aquele boné à Vítor Damas.

Como um dia disse o jornalista Carlos Pinhão, Vítor Damas, era o “Eusébio do Sporting”.

Legenda: Caricatura de Francisco Zambujal.

5 comentários:

Jack Kerouac disse...

A angústia do avançado antes da marcação de um penalty é tanta, que nesse famoso lance que daria o título Espanhol ao Corunha o Bebeto, que era então a grande estrela do Deportivo, tremeu tanto que....nem o quis marcar, deixando essa tarefa fatídica para um desgraçado de nome Dukic, esse sim é que falhou a grande penalidade em questão.

Anónimo disse...

Boa memória, Jack.
O raio do Dukic ficou no lado adormecido do meu cérebro, só me lembrava do Bebto.
Um abraço

sammypaquete disse...

Volta e meia esta geringonça dispara. O anónimo aí em cima, sou eu,,,

Luís Mira disse...

Embora tarde e a más horas, aqui estou a juntar a minha voz a esta bela homenagem ao Grande Vitor Damas.

Se, em miúdo, eu tinha a mania que era guarda-redes, a ele o fiquei a dever.

Lembro-me como se fosse hoje que o vi ao vivo pela primeira vez no Estádio da Luz, num jogo de reservas onde os putos tinham entrada livre para a cabeceira.

Durante anos, quando ia ver os jogos do Sporting (quase sempre a Académica em Alvalade, levado pelo meu primo Juca) só tinha olhos para ele. E depois ia para os relvados do jardim do Campo Pequeno pedir aos amigos para me chutarem a bola a meia altura para os cantos, para eu poder voar como o Vitor Damas.

Durante uns anos tinha a mania que os voos do Damas eram passes de dança, ballet, até me ter apercebido, uns anos mais tarde (às vezes estas coisas vêm com a idade...) de que eram pura poesia ....

Ainda hoje um dos meus maiores desgostos desportivos foi a eliminação do Sporting pelo Glasgow Rangers aí há uns 40 anos atrás. O árbitro errou, considerando que o prolongamento era considerado "campo neutro" e levou o jogo a penalties, tendo o Damas defendido quatro embora, depois, isso não tenha servido de nada... Eu ouvi tudo pela rádio e saí aos pulos, porque só mais tarde se soube do infeliz desenlace!

Quando morreu, de uma forma para mim totalmente inesperada, acho que deixei escapar uma lágrima no canto do olho porque era alguém muito especial para mim.

Que me lembre, nunca gostei assim tanto de um desportista como gostei dele. O único que se poderá aproximar, embora a alguma distância e já numa outra idade, foi o pachola do Joaquim Agostinho, pelo qual tinha também grande admiração, ao ponto de o ter ido ver várias vezes à beira da estrada.

Ah, já me esquecia... Se alguma coisa historicamente me liga ao Sporting, é certo e sabido que o foi pela via do Vitor Damas.

E se odeio o Benfica, é provável que também o seja pelas sucessivas humilhações que lhe provocou, nomeadamente uns célebres 5 que lhe espetou na Luz, naquela que passou por ser uma das melhores exibições da vida do pobre Vitor...!

Saudações leoninas, portanto...!

Luís Mira disse...

Embora tarde e a más horas, aqui estou a juntar a minha voz a esta bela homenagem ao Grande Vitor Damas.

Se, em miúdo, eu tinha a mania que era guarda-redes, a ele o fiquei a dever.

Lembro-me como se fosse hoje que o vi ao vivo pela primeira vez no Estádio da Luz, num jogo de reservas onde os putos tinham entrada livre para a cabeceira.

Durante anos, quando ia ver os jogos do Sporting (quase sempre a Académica em Alvalade, levado pelo meu primo Juca) só tinha olhos para ele. E depois ia para os relvados do jardim do Campo Pequeno pedir aos amigos para me chutarem a bola a meia altura para os cantos, para eu poder voar como o Vitor Damas.

Durante uns anos tinha a mania que os voos do Damas eram passes de dança, ballet, até me ter apercebido, uns anos mais tarde (às vezes estas coisas vêm com a idade...) de que eram pura poesia ....

Ainda hoje um dos meus maiores desgostos desportivos foi a eliminação do Sporting pelo Glasgow Rangers aí há uns 40 anos atrás. O árbitro errou, considerando que o prolongamento era considerado "campo neutro" e levou o jogo a penalties, tendo o Damas defendido quatro embora, depois, isso não tenha servido de nada... Eu ouvi tudo pela rádio e saí aos pulos, porque só mais tarde se soube do infeliz desenlace!

Quando morreu, de uma forma para mim totalmente inesperada, acho que deixei escapar uma lágrima no canto do olho porque era alguém muito especial para mim.

Que me lembre, nunca gostei assim tanto de um desportista como gostei dele. O único que se poderá aproximar, embora a alguma distância e já numa outra idade, foi o pachola do Joaquim Agostinho, pelo qual tinha também grande admiração, ao ponto de o ter ido ver várias vezes à beira da estrada.

Ah, já me esquecia... Se alguma coisa historicamente me liga ao Sporting, é certo e sabido que o foi pela via do Vitor Damas.

E se odeio o Benfica, é provável que também o seja pelas sucessivas humilhações que lhe provocou, nomeadamente uns célebres 5 que lhe espetou na Luz, naquela que passou por ser uma das melhores exibições da vida do pobre Vitor...!

Saudações leoninas, portanto...!