quinta-feira, 31 de março de 2011

QUAL O CRISTÃO QUE DISCORDA DO MANIFESTO COMUNISTA?


O “Diário de Lisboa” de 31 de Março de 1975 fazia-se eco da Homilia Pascal que D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, proferira na Sé Catedral.

Este era o começo da notícia:

“Na ordem dos fins não é Marx que nos separa do mundo de hoje, embora o reino de Deus nunca seja deste mundo simplesmente. Na ordem dos outros meios, outras coisas teria de dizer-se: mas esse estudo não é para aqui. Não deixaremos no entanto de dizer que se, bem que Marx fosse um revolucionário – não de café! – e o combate fosse o seu elemento, como dele descreveu Engels, o que aliás pagou bem caro toda a vida, no entanto o seu entusiasmo pela luta de classes ficava bem longe do de certos cristãos pelo socialismo e dos que pregam a raiva e o paroxismo do escândalo como meio de renovação do Mundo.”

E este o final da notícia:

“Referindo-se a Marx (nome que todos os reaccionários do Mundo sempre temem) afirmou D. António Ferreira Gomes:
“Se o Manifesto Comunista dá como definição do ideal comunista uma sociedade onde o livre desabrochar de cada um é condição do livre desabrochar de todos, qual seria o cristão, fiel ao reino de Deus, que discorde desse ideal? Se, em “O Capital”, Marx se propõe mostrar como o trabalho fabril coisifica o homem, ou, por outras palavras, opera uma inversão das relações entre o sujeito e o objecto, e põe como projecto ao socialismo reconverter essa inversão e fazer do homem sujeito da economia, qual é o católico, conhecedor da doutrina social, para quem este projecto esta própria linguagem sejam estranhas?”