Quando, mesmo nas cidades, o telefone era um privilégio, quando aquilo a que chamamos correio electrónico nem sequer tinha nome, lançava-se mão do papel para escrever à família, aos amigos.
Por 50 centavos, melhor, por cinco tostões, enviavam-se recados em postais dos CTT: “Chego a Arganil na carreira da tarde, “A Rosarinho teve uma menina, estão as duas bem” ou um verso de Vinicius de Moraes, deixado como memória futura: “Posso não ter namorado todas as mulheres bonitas que conheci, mas ninguém me pode acusar de não ter tentado”.
Chegaram os telexes, os faxes, os “mails”, os telemóveis, os "sms" , e as pessoas deixaram de escrever postais.
Nestes postais, amarelecidos pelo tempo, pode sentir-se a importância que a correspondência postal tinha.
Esperava-se a chegada do correio, com ansiedade e esperança, hoje, no ecran do computador por ler-se “Você Tem uma Mensagem”, no telemóvel um sinal sonoro.
Hoje ninguém escreve a ninguém.
Abre-se a caixa do correio e apenas saltam facturas da água, do telefone, da electricidade, disto e daquilo, enfim, tudo coisas para pagar, a “Dica da Semana”, numerosa propaganda a excursões daqui para ali. Ainda hoje as organizações “Terra Nostra” anunciavam 2 dias a Madrid, 1 dia ao Castelo de Almourol, 2 dias a Mirandela, tudo incluído e ainda: “Oferecemos um presente surpresa totalmente grátis!”
Ninguém escreve a ninguém.
Mesmo Sophia, que assim se desculpava a Jorge de Sena: “você sabe que eu tenho a maior vocação para falar ao telefone e nenhuma vocação para escrever cartas.”
Definitivamente, ninguém escreve a ninguém.
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