sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

MÚSICA PELA MANHÃ

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Blue Velvet – Blue On Blue

singlezinho custou 410$00.

Já que na capa estampavam publicidade ao iogurte magro Danone, poderiam ter feito um desconto à rapaziada.

Mas não. Rapazes jeitosos que são, meteram tudo ao bolso.

Foi por estas e por outras, não apenas pelo champanhe, que a Greta Garbo, em “Niinotcka”, se converteu às delícias do capitalismo.

Blue Velvet é uma música que esse rapazinho genial que dá pelo nome de David Lynch incluiu no filme, com o mesmo nome, e com soberbas interpretações de Isabela Rossellini e Dennis Hopper.

O que definitivamente gosta nos filmes de Lynch é não perceber quase nada do que lá se passa e não fazer ideia nenhuma do que ele lhe quer dizer.

É o que não alcança que o atrai em David Lynch.

 

(Texto Datado de 4 de Abril de 2010)

SE TE CRIEI NÃO SEI

Se te criei não sei

nem se te quero assim

nem se é de ti que falo imagem que contemplo ou imagino

ou falo só de mim


As cores que antes espalhei e apaguei

sob outras cores em vão chamadas tão intensas sempre voltam

que em seu rumor afogam

tudo o que em volta ainda há ou houve ou haveria


Na floresta de lume quero ver bem e despegar-te

de mim mesmo e definir-te e definir-me e entender

onde este mudo apelo acaba e principia

Saber enfim não mais esperar-te ou inventar-te ou modelar-te

serena turva imagem destes dias sem destino

deles mesmos tecida em morte ou recomeço


E apenas sei

que em teus olhos sem cor feitos de mágoas e de mudança

luz um país que não vê e onde me vejo

e ao meu desejo inda para lá de todo o desespero e toda a esperança

num outro eu amanhecendo


Apenas sei sabendo que não sei

que é tempo de me ver para não te ver E cego só entendo

que neste halo a que me rendo ou eu mesmo entreteço

só não me vendo deixaria

de ver-te aqui de minhas mãos nascendo

 

Mário Dionísio em Cerejas

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

POSTAIS SEM SELO

Só quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, as pessoas perceberão que não podem comer dinheiro.

Frase atribuída aos Cris.

DAVID LYNCH (1946-2025)


 Morreu Davi Lynch.

OS DIAS VISTOS DO CAFÉ DO MONTE

Portanto isto da idade não conta para se ser ou não milionário (o que não faltam, aliás, são milionários de nascença).

Mas falávamos do fascínio exercido pelo dinheiro, apesar dos maus resultados que tal fascínio vem arrastando. Houve uma altura em que se citava uma frase atribuída aos Cris, uma etnia índia ainda hoje numerosa no Canadá:

«Só quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, as pessoas perceberão que não podem comer dinheiro.»

Ana Cristina Leonardo de uma crónica no Público de 13 de Dezembro

À BEIRA DO PRINCÍPIO

À beira do princípio, do precipício,

o Anjo do Conhecimento cega

para poder ver o início

da sua queda caótica.

 

Aquilo que o Visionário vê é o que

o vê a ele do alto do Futuro

para onde cai com o conhecimento obscuro de

saber que está no sítio para onde vai.

 

(O que regressa ao sítio de onde nunca saiu

é o mesmo que nunca lá esteve,

o que sobe a escada e transpõe a porta

que dá para toda a parte).

 

Manuel António Pina em Poesia, Saudade da Prosa

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

OLHAR AS CAPAS


Eça de Queirós

Correspondência

Coordenação, Prefácio e Notas de Guilherme de Castilho

Capa: Armando Alves

Biblioteca de Autores Portugueses
Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, Setembro de 1983

 

Carta a Latino Coelho

 

Bristol, 10 de Julho de 1887

                   Ill.mo Ex.mo Sr. José Maria Latino Coelho

                   Secretário da Academia Real das Ciências de Lisboa

 

Exmo. Sr.

 

Tenho a honra de remeter a V. Exªa dois exemplares da minha obra A Relíquia com a qual desejo concorrer ao Prémio Académico fundado por S. M. El-Rei o Sr. Luís I

Creia V. Exª na alta consideração a perfeita estima com que sou

 

                                                      De V. Exª.

                                                Consórcio m.to venerador

                                                   J.M. d’Eça de Queirós

DAS CEREJAS

Das cerejas

eu lembro que eram doces.

Eram rubis de brinco

nas orelhas

e serviam de troca

boca a boca

no entretém guloso

dos namoros.

 

Eduardo Carneiro

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

NOTÍCIAS DO CIRCO

«O primeiro-ministro português faz parte daquele grupo de pessoas para quem não há nenhuma diferença entre um racista e um anti-racista. O primeiro-ministro português considera que as dezenas de milhares de pessoas que saíram à rua, no último sábado, em Lisboa, para defenderem valores cívicos, como o respeito pelo outro ou a igualdade de tratamento, e condenarem o racismo ou a discriminação, são tão extremistas quando os verdadeiros extremistas.»

Amílcar Correia no Público de hoje

O POEMA QUE HEI-DE ESCREVER

O poema que hei-de escrever para ti, dando notícias
Do último reduto das coisas, das profundidades intactas,
Nasce, adormece e referve-me no sangue
Com a íntima lentidão dos teus seios desabrochando,
Porque, sei, não estás longe (nem da minha vida!), meu mistério fiel.
Hoje a nossa companhia é a tua inconsciência e o teu instinto: puro
Instinto que eu, de longe, embalo e velo
E acordará («em frente!») às primeiras palavras
Do poema, quando ele despontar.

Cristovam Pavia

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

NOTÍCIAS DO CIRCO


Sim há coisas mais importantes – e graves! – para discutirmos do que sabermos que  Gouveia e Melo estar à frente nas projecções das presidenciais que se realizarão no próximo ano.

Ninguém sabe quem colocou o ex-Almirante na corrida presidencial. À boca pequena fala-se na maçonaria…

Do que se vai sabendo do pensamento de Gouveia e Melo ressalta que disse numa entrevista que vê, com bons olhos, mais dinheiro para a defesa da pátria do que para o Serviço Nacional de Saúde.

O recorte que se apresenta no topo foi escrito por Miguel Cadete no Expresso e refere  Ana Paula Martins, ministra da Saúde do governo de Luís Montenegro.

SEGREDO

Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça

nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço

Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar

nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar

Maria Teresa Horta

domingo, 12 de janeiro de 2025

OLHAR AS CAPAS


Um Homem de Barbas

Manuel de Lima

Prefácio: José de Almada Negreiros

Capa: Soares Rocha

Colecção Obras de Manuel de Lima nº 4

Editorial Estampa, Lisboa, Setembro de 1973

Benditas sejam as mulheres que confiam naqueles que amam.

DITOS & REDITOS


Viver é iluminar.

Os gostos são uma coisa estranha.

Falar é fácil. Custa é aprender a calar.

Tudo corre atrás de quem não pode.

Se tudo correr bem, hei-de morrer um dia destes.

Amanhã, depois, e depois, e depois de depois a vida continua.

Gostos não se discutem...desfrutam-se.

Ler é mesmo viajar sem sair do lugar...

sábado, 11 de janeiro de 2025

POSTAIS SEM SELO

A palavra continua a ser dita e todos nós sabemos que o pensar não está a sair pelos olhos, pelos ouvidos e pelo nariz e que também nos é arrancado muitas vezes pelas costas.

Mário-Henrique Leiria

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

NOTÍCIAS DO CIRCO

Sondagem para o JN, TSF e TVI/CNN: Gouveia e Melo é nesta altura o grande favorito na corrida a Belém.

Como se não tivéssemos outras coisas – e tão graves! – para tratar!!!!

FIM DE VERÃO

A angústia que nasce num dia de verão

pode bem ser fugidio nevoeiro

a esvair-se no tempo da sua promessa

e a dizer-nos com força que não temos razão

 

em duvidar da vida e da nossa presença

junto à terra e ao mar, aqui nestas areias

onde o tempo afinal nem começa nem pensa

e o sol tudo apaga em qualquer estação.

 

Eu lembro Ruy Belo no final deste verão,

mas a vida larguei aqui por esta praia

e o reencontro fez-se contida paixão

com o verso a fluir e a vida tão escassa…

 

A angústia que nasce num dia de verão

é do tempo e da terra uma só comunhão.

 

Luís Filipe Castro Mendes em Poemas Reunidos

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

POSTAIS SEM SELO

Que farei quando tudo arde?

Sá de Miranda

O NAVIO ESTAVA LÁ EM BAIXO

Dali tinha-se vista para Lisboa aos nossos pés, as igrejas à luz pálida do luara, as ruas, o porto, o cais e o navio que era uma arca.

-Acredita na sobrevivência além da morte? – perguntou-me o homem dos bilhetes.

Levantei a cabeça. Estava à espera de tudo, menos daquilo.

- Não sei – acabei por responder. – Nos últimos anos tenho andado demasiado preocupado com a sobrevivência antes da morte. Hei-de pensar melhor no assunto quando estiver na América – acrescentei, para lhe relembrar as passagens que prometera para apanhar o navio.

- Eu não – afirmou.

Suspirei de alívio. Estava preparado para ouvir de tudo mas não teria aguentado uma discussão. Sentia-me demasiado inquieto. O navio estava lá em baixo.

Erich Maria Remarque em Uma Noite em Lisboa

OLHAR AS CAPAS

Poesias

Sá de Miranda

Selecção, prefácio e notas: Rodrigues Lapa

Colecção Textos Literários

Seara Nova editora, Lisboa 1962

Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho,
e vejo o que não vi nunca, nem cri
que houvesse cá, recolhe-se a alma a si,
e vou tresvaliando, como em sonho.

Isto passado, quando me desponho
e me quero afirmar se foi assi,
pasmado e duvidoso do que vi,
m’espanto às vezes, outras m’avergonho;

Que, tornando ante vós, senhora, tal,
Quando m’era mister tant’outr’ajuda,
de que me valerei, se alma não val?

Esperando por ela que me acuda,
e não me acode, e está cuidando em al,
afronta o coração, a língua é muda.

ESTIVE SEMPRE SENTADO NESTA PEDRA

Estive sempre sentado nesta pedra

escutando, por assim dizer, o silêncio.

Ou no lago cair um fiozinho de água.

O lago é o tanque daquela idade

em que não tinha o coração

magoado. (Porque o amor, perdoa dizê-lo,

dói tanto! Todo o amor. Até o nosso,

tão feito de privação.) Estou onde

sempre estive: à beira de ser água.

Envelhecendo no rumor da bica

por onde corre apenas o silêncio.

 

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

POSTAIS SEM SELO


 Como escritor, Eça de Queiroz encheu a sua paleta das tintas mais variadas.

Criou a fonte dos efeitos mais encontrados, dos tons mais novos, mais originais, mais imprevistos.

Ramalho Ortigão

Legenda: Ramalho Ortigão e Eça de Queiroz

OLHAR AS CAPAS


Os Cadernos do Major Thompson

Pierre Daninos

Versão de Rocha Júnior

Desenhos de Walter Goetz

Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1955

Um Inglês correcto – se me é permitido o uso desse pleonasmo sem chocar os meus respeitáveis compatriotas – nunca poderia, a menos que tivesse perdido a noção da dignidade, pôr-se a falar de si próprio, mormente no início de uma narrativa. Porém, como os astronautas, a partir de certa distância, escapam ao fenómeno da atracção, também eu – desde que fui projectado sobre o Continente europeu – deixei de me sentir submetido às leis da gravidade britânica. E, pois que tenho de falar dos Franceses aos Franceses, apesar de nunca lhes ter sido apresentado, acho-me mais à vontade para fazer o que não se faz, ou seja para dar da minha pessoa informações que, do outro lado do Canal, pareciam inteiramente deslocadas.

O meiunome ´Thompson.

William Marmaduke Thompson.

E EÇA DE QUEIROZ REGRESSA LISBOA...


Os restos mortais de José Maria Eça de Queiroz vão finalmente ser trasladados nesta quarta-feira do cemitério da aldeia de Santa Cruz do Douro, ao pé de Baião, para o Panteão Nacional de Santa Engrácia, em Lisboa.

Durante nove meses, a Assembleia da República apoiada pela Fundação Eça de Queiroz, lutou em tribunal contra os seis bisnetos de Eça que queriam impedir a mudança.

Eça de Queiroz viveu poucos tempos em Tormes e nunca revelou onde gostaria de ser enterrado.

Mais importante que a entrada de Eça no Panteão, seria que os portugueses lessem a sua obra. Li-o aos 13/15 anos, deliciei-me, e ao longo desta minha vida nunca deixei de o reler: o fino humor, a originalidade, a fantasia de alguém sempre se considerou «um pobre homem da Póvoa do Varzim».

QUOTIDIANOS

A Porto Editora deu, hoje, a conhecer, que a Palavra do Ano 2024 é: Liberdade. Angariou 22% dos votos dos portugueses. Outras palavras em discussão, que decorreu até 31 de Dezembro de 2024: "conflitos", "imigração".

No final do editorial no Público, a jornalista Sónia Sapage escreve:

 «Censura. Talvez venha a ser essa a Palavra do Ano 2025, nós é que ainda não o conseguimos prever.»

Um leitor do jornal deixou este comentário:

«Para as crianças, uma das melhores formas de melhorar as capacidades de leitura é criar o hábito de leitura regular. Incentive o seu filho/criança a ler todos os dias e crie um ambiente que promova a leitura. Certifique-se de que existe acesso a livros e revistas adaptados aos interesses e ao nível de leitura da criança. Ao tornar a leitura numa actividade divertida e gratificante, a criança irá desenvolver as suas aptidões de leitura e o seu interesse pelos livros… Como mãe e pai e/ou adulto educador, pode servir de modelo lendo assiduamente e demonstrando entusiasmo pelos livros e pela literatura. As crianças e os jovens tendem a imitar o comportamento dos adultos, por isso, se os virem a ler, é mais provável que leiam também…»