quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

DIÁRIO DA GREVE GERAL


 «A esmagadora maioria dos trabalhadores do País está a trabalhar", afirmou o ministro da Presidência em declarações aos jornalistas na manhã desta quinta-feira. Leitão Amaro afirmou ainda que "o nível de adesão do País à greve é inexpressivo, em particular no sector privado e social.»

«O país está a trabalhar e há uma parte do país que está a exercer o legítimo direito à greve. A parte que está a exercer legítimo direito à greve é a parte minoritária, a parte largamente maioritária está a trabalhar e nós estamos também a trabalhar", afirmou Luís Montenegro, numa curta declaração aos jornalistas.»

 

ALGUMA SE VEZ PODERÀ DIZER QUE, FACE A ESTAS ANÁLISES SOBRE A GREVE GREAL, ESTAMOS PERANTE UM GOVERNO CREDÍVEL, RESPONSÁEL?

 

«O fenómeno é comum a quase todos os países da OCDE e Portugal não foge à regra: nas últimas décadas a taxa de sindicalização tem vindo a ser cada vez mais baixa. Porque é que isto acontece? Mudanças no mundo e no mundo do trabalho em concreto ajudam a explicar o declínio da sindicalização. Mas os sindicatos avisam que não morreram e que, para os trabalhadores, continuam a ser o último apoio quando tudo o resto falha.»


Patrícia Carvalho no Público

«Afinal, que sentido tem exatamente a greve geral?
O propósito desta revisão da legislação laboral é desequilibrar a lei a favor dos empregadores e diminuir a natureza coletiva das relações de trabalho. Basta, aliás, recordar as palavras de alerta deixadas pela ministra do Trabalho em entrevista à RTP, quando afirmou que “a lei que está em vigor tem algum desequilíbrio em favor dos trabalhadores”. As propostas do Governo são de tal forma “avançadas” que nem nos sonhos mais ambiciosos dos empregadores e dos seus representantes se esperava um brinde destes.


Pedro Adão e Silva

«Os herdeiros do passismo regressaram ao poder e querem retomar o caminho de intimidação iniciado há 15 anos. Para eles, trabalha melhor quem tem medo, quem, por isso, obedece e se cala.

Manuel Loff

A greve geral existiu
É uma derrota, a somar a outras que o executivo tem acumulado neste dossier. Da união pouco usual das duas centrais sindicais à convocação de uma greve geral que já não acontecia há 12 anos. Da quase ausência de quem, no espaço público, defenda a bondade das mudanças à lei até ao embaraço provocado ao próprio candidato presidencial Luís Marques Mendes. O Governo começou muito mal, sem ter construído uma narrativa para as mudanças, e arrisca-se a acabar pior.
A greve geral existiu
De pouco servirá entrar na guerra de números que, como seria de esperar, estão dentro da amplitude do exagero entre aquilo que os sindicatos exibem como uma vitória e o que Governo e patrões dizem que foi uma derrota. O que é certo é que a greve geral existiu mesmo e dificilmente deixará de ser um marco negativo no percurso político deste executivo.»


David Pontes

POEMAS QUOTIDIANOS

Poemas quotidianos

como o sol
como a noite

como a vontade de comer
e o sono

como as preocupações
e o amor

e porque saio à rua
e trabalho
diariamente

 

António Reis em Poemas Quotidianos

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


Primeiro levaram os comunistas,

Mas eu não me importei,

Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,

Mas a mim não me afectou

Porque eu não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,

Mas eu não me incomodei

Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez

De alguns padres, mas como

Nunca fui religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim

E quando percebi,

Já era tarde.

 

Poema atribuído, entre outras autorias, a Bertold Brecht

NOTÍCIAS DO CIRCO

Depois das críticas dos trabalhadores da RTP e de Salvador Sobral sobre a permanência de Portugal no certame, por causa da presença de Israel, uma petição ganha fôlego para exigir o país se retire, tal como fizeram Espanha, Irlanda e Países Baixos.

A petição lançada a 5 de Dezembro para exigir a retirada de Portugal do Festival da Eurovisão, já tem mais de 10 mil assinaturas.

DIÁRIO DA GREVE GERAL

 «A proposta do governo, nas suas traves mestras, também provoca mais precariedade (contratos a termo certo com duração inicial de um ano, em vez dos seis meses atuais, e com possibilidade de duas renovações, até um limite de três anos); vai facilitar o despedimento, desprotegendo o trabalhador contra despedimento injustificado; promove uma maior desregulação dos horários e a precarização das condições de trabalho, enfraquece a contratação colectiva, a acção sindical e o direito à greve.

É legitimo propor este caminho, acreditando que é o caminho certo para aumentar a produtividade nas empresas, fazer crescer a economia e criar novos empregos. Mas entra no domínio da aldrabice política querer convencer alguém que tudo isto não é feito com perda de direitos para os trabalhadores.»

Paulo Baldaia no Expresso


A CGTP e a UGT marcaram uma Greve Geral contra as medidas laborais propostas pelo governo.

Será a primeira em 12 anos. A última, realizada pelas duas principais centrais sindicais, a 27 de Junho de 2013, ocorreu durante a crise económica, quando Portugal enfrentou um resgate financeiro e as suas consequências.

Luís Montenegro, e acompanhantes, justificam a revisão da Lei Laboral com a necessidade de modernizar a economia e diz que os trabalhadores não têm razão para fazer greve.

Luís Montenegro, e acompanhantes, afirmam que as medidas propostas visam aumentar a flexibilidade do mercado de trabalho.

«Apresentámos alterações a mais de 100 artigos, mais de 100 alterações, e estamos agora disponíveis para uma consulta sobre essas alterações no âmbito da Concertação Social e também estaremos disponíveis para isso no Parlamento. O objetivo é que o resultado final possa confirmar o ajustamento da lei às exigências actuais da nossa economia, ao funcionamento da nossa economia, à robustez da nossa economia e ao funcionamento das nossas empresas»

Os serviços mínimos vão abranger, na próxima quinta-feira, dia de greve geral, a circulação de comboios, barcos e a Carris, em Lisboa, excluindo, todavia, o Metro. As decisões foram reveladas este sábado pelo Conselho Económico e Social.
O direito à greve encontra-se consagrado no artigo 57.º da Constituição da República Portuguesa. É um direito fundamental dos trabalhadores. O direito à greve é irrenunciável. Todos os trabalhadores podem aderir à greve geral, independentemente do sector de atividade, público ou privado, da natureza da sua entidade patronal e da natureza do seu vínculo à entidade patronal e do facto de se encontrarem sindicalizados ou não.  O aviso prévio de greve geral apresentado pela UGT e pela CGTP cobre todos os trabalhadores por conta de outrem.

Mas há sempre que contar com velhos hábitos, como as ameaças que larga fatia do patronato exercerá sobre os trabalhadores.

MÚSICA PELA MANHÃ


 Em relação a Elvis Presley, sou mais que suspeita, sou suspeitíssima.

Sei que é um exagero, mas gosto de tudo o que o Elvis canta e adianto que White Christmas adquire um outro sentido na voz do Rei.

Colaboração de Aida Santos.

UM HOMEM INSEGURO

Era um homem inseguro

desde que, em criança,

pendurado numa árvore,

sentira quebrar-se o ramo

e estatelara-se no chão

como um pássaro bebé

acabado de sair do ninho.

Transportou pela vida

esse sentimento de queda,

a vertigem do alpinista

à borda do precipício.

Era alguém de confiança

que desconfiava do mundo,

começando por si, desde

aquele dia de uma queda

continuada que findaria

apenas à hora da morte,

quando, adormecido de pé,

tombou sobre o vazio

batendo com a cabeça

num coração de mármore.

 

Juraan Vink, do "Livro das Memórias".

Versão de HMBF em Antologia do Esquecimento

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


Tudo o que é bom é feito devagar.

Príamo, último Rei de Tróia

OLHAR AS CAPAS


 Os Homens Alegres

Robert Louis Stevenson

Tradução: Helena Barbas

Colecção: Mares nº 59

Expo 98, Lisboa Agosto de 1997

Estava uma manhã maravilhosa de finais de Julho quando pela última vez me pus para o caminho de Aros. Na noite anterior um barco tinha-me largado em terra de Grisapol. Tomei o pequeno-almoço que a modesta estalagem me permitiu e, deixando ali toda a bagagem até que a pudesse vir recolher por mar, ataquei pelo promontório de coração alegre.

Estava longe de ser um nativo destas partes, originário, como era, do tronco puro das terras baixas da Escócia. Mas um tio meu, Gordon Darnaway, depois de uma juventude pobre e rude, e de alguns anos no mar, tinha casado com uma jovem rapariga das ilhas. Mary Maclean, assim se chamava ela, a última representante da sua família. E quando ela morreu a dar à luz uma filha, Aros, a quinta cercada pelo mar, tinha ficado na posse dele. Não lhe trouxe nada alem de meios de subsistência, como eu bem sabia, mas era um homem a quem a má fortuna perseguira. Embaraçado como estava com uma criança pequena, receava voltar a arriscar-se nas aventuras da vida, e conservava-se em Aros, a roer as unhas contra o destino. Os anos passaram-lhe sobre a cabeça naquela solidão, e não lhe trouxeram nem auxílio, nem contentamento. Entretanto a nossa família ia morrendo na planície. Há pouca sorte para qualquer um daquela raça, e talvez o meu pai tivesse sido o mais afortunado de todos porque, não só foi um dos últimos a morrer, mas deixou um filho ao seu nome e um pouco de dinheiro para o sustentar. Eu era estudante na Universidade de Edimburgo, vivendo suficientemente bem às minhas custas, mas sem amigos e parentes. Quando algumas notícias acerca da minha pessoa fizeram caminho até ao rio Gordon, no Ross Grisapol, ele – que era um homem que considerava o sangue mais espesso que a água – escreveu-me no dia em que soube da minha existência, e instou-me a que considerasse Aros como o meu lar. Foi assim que acabei a passar as minhas férias naquela parte do país, tão distante de todo o convívio e conforto entre o bacalhau e as galinhas d’água escocesas. E era para isso que agora, depois de ter acabado as aulas, regressava com um coração tão leve nesse dia de Julho.


DIÁRIO DA GREVE GERAL


 Luís Montenegro, para as últimas eleições legislativas, não incluiu no programa do PSD qualquer reforma laboral.

Por motivos que só ele, ou a ministra do Trabalho, poderão clarificar, surgiu um miserável pacote reformista dos direitos de quem trabalha muito e recebe pouco.

Causou espanto e indignação.

Depois de lida e relida a proposta, tanto a CGTP e a UGT, acabaram por concluir que apenas uma Greve Geral, poderia levar o governo e os habituais acompanhantes, a repensarem o disparate em que caíram.

A Greve Geral ficou marcada para o dia 11 de Dezembro.

Entretanto, nada aconteceu, apenas acusações pífias: o governo desqualificou as motivações da greve, lançando a acusação de que as centrais sindicais estão a mando dos partidos, esquecendo (?) que o que motiva os trabalhadores é a própria reforma laboral.

Ainda reuniram com a UGT, que, entre outros, reúne trabalhadores apoiantes do PSD, mas o pacote é demasiado gravoso, para que remendos e remedinhos que apresentaram, servissem para demover a Greve Geral. 

MÚSICA PELA MANHÃ

A capa do CD não é nada bonita.

A fotografia que escolheram abona pouco quem nela consentiu. Como diz Sammy, apropriada para aqueles calendários que existiam nos calendários das paredes das garagens de bairro.

Mas como se gosta de Diana Krall… e  de Canções de Natal…

NUM OUTRO MAR QUE DESSES MORRERIA

Num outro mar que desses morreria
e não invejo, pois, a só migalha
que a mão que tens mais leve certo dia
a outros pelo vento cega e espalha.
 
A mim, amor, só cabe, qual convém
para o centro da terra, teu miolo;
e, mais, do que isso, a tua chaga-mãe,
a perfeita descida do teu colo,
 
o lado fora, e nele o imo expresso
nos acidentes líricos do leito
em que, de ter-te, só me tenho e esqueço.
 
Em nada tenho tudo, dito e feito,
e nisso tens a estrela que mereço
brilhando perto, ao fundo do teu peito.

Pedro Tamen de Os Quarenta e Dois Sonetos em Tábua das Matéria

 


segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO

Morrer é saber que não se aprendeu tudo, inclusivamente como morres.

Sérgio Godinho

DISTO, DAQUILO E DAQUELOUTRO

Gosto de futebol.

Aos 5 anos, com o meu avô, rumámos ao Campo Grande, na velha «estância de madeira», e aí vi o primeiro jogo em que o Benfica defrontou o Vitória de Setúbal. Na memória ficou que o Benfica ganhou, o Setúbal tinha um avançado centro negro, de seu nome Melão, do Benfica ficou gravada a bonita e elegante figura de José Águas.

Ao longo de todos estes anos, vi os melhores jogadores do mundo, lembrarei sempre o Mundial de 1966, aquele jogo do Eusébio contra a Coreia do Norte.

Vou-me desiludindo com os caminhos que o futebol vai percorrendo e já pouco ou nada me entusiasma.

Ando a arrumar papéis velhos e dei com recortes que registam a morte de George Best, possivelmente, a primeira superstar do futebol mundial.

No dia da sua morte, os jornais ingleses realçaram as várias exibições memoráveis George Best e, como uma das mais brilhantes, lá vinha os quartos de final da Taça dos Campeões Europeu, em 1966. Na Luz, a rebentar pelas costuras, Best marcou dois dos cinco golos com que o Manchester presenteou o Benfica. Eu estive lá!

Dois anos depois, a final dos Campeões Europeus no Estádio de Wembley, 1 a 1 no final do jogo mas a segundos desse final, o Simões falha, à boca da baliza o segundo golo e, no prolongamento, o George Best marcou o 2º golo que terminaria com o resultado de 4 a 1.

Nesse ano de 1968, Best tinha 22 anos, estava no pico da sua carreira, glória do Manchester United e da selecção da Irlanda, os seus colegas de equipa diziam que não havia nada que ele não conseguisse fazer em campo, que não havia posição no terreno que lhe fosse incómoda. Mas começou a chegar tarde e a faltar aos treinos. Álcool, mulheres, noites que acabavam mal, algumas atrás das grades nas esquadras de polícia.

Disse:

«Na minha vida gastei montanhas de dinheiro em mulheres, vinhos e carros rápidos. O resto desperdicei…».

Um dia, Best sintetizou exemplarmente a sua vida:

«Na América vivia numa casa perto da praia. No caminho para lá, havia um bar, por isso nunca chegava à água.»

Também desmentiu um célebre rumor da época, segundo o qual tinha dormido com sete misses Mundo: «Foram só quatro!»

Legenda: fotografia na primeira página e destaque na 2ª e seguintes do Público de 26 de Novembro de 2005.

1.

A fuga de impostos das multinacionais custa 2,9 milhões de euros por dia.

2.

Os Açores, a Madeira, o Alentejo e o Algarve são as regiões portuguesas com taxas de mortalidade mais elevadas.

3.

Foi ajustada a idade da reforma sem penalizações para o ano de 2027: serão quase 67 noas (66 e 11 meses), mais dois meses do que em 2026. É o valor mais alto de sempre, um recorde que, ao que tudo indica, será batido ano após ano enquanto a esperança média de vida continuar a subir.
Lembrem-se que mais anos de vida não significa necessariamente mais anos com qualidade de vida.

4.

                        

A CGTP e a UGT decidiram convocar uma greve geral para 11 de Dezembro, em resposta ao anteprojecto de lei da reforma da legislação laboral, apresentado pelo Governo.

O governo apenas tem debitado as banalidades do costume!

5.

Desde o início do ano, Portugal perdeu 37 ecrãs de cinema e está em vias de ver extinguirem-se mais nove, num total de 46.

6.

Bernardo Gouvêa, presidente do Instituto do Vinho e da Vinha, disse a Pedro Garcias do Fugas do Público que «Portugal produz vinho em quantidade suficiente para as suas necessidades, mas, mesmo assim importa mais de 299 milhões de litros a Espanha.»

Não sou especialista, mas entendo que estas misturas de uvas não ajudam à qualidade e sabor do vinho e, possivelmente, ao preço.

Talvez por isso os vinhos alentejanos, tinham um sabor que hoje não encontro. 

NOTÍCIAS DO CIRCO

Soldados da GNR e guardas da PSP foram mandantes de agrários que mantiveram, em condições de trabalho e de vida completamente miseráveis, trabalhadores imigrantes.

 Os nomes dos agrários não foram revelados, tão pouco se sabe se irão ser incriminados.

Ana Sá Lopes lembra hoje no Público:

«Safra Justa: quem não transcreveu as escutas aos elementos da GNR e ao agente da PSP?

O que é que aconteceu para não terem sido transcritas? Durante um ano não houve funcionários capazes para o fazer? Os procuradores esqueceram-se? No programa Expresso da Meia-Noite da SIC Notícias, na passada sexta-feira, o advogado Manuel Magalhães e Silva chegou a dizer que as escutas não foram transcritas “de propósito”. Isto é particularmente grave porque se está a falar de crimes de quase escravatura contra imigrantes.

No comunicado de 25 de Novembro, a GNR diz que “tudo fará para que os autores sejam criminalmente responsabilizados” e que na Guarda Nacional Republicana “não há lugar para pessoas cujo comportamento possa corromper o compromisso de honra e exemplaridade ética” que os militares assumiram “perante a sociedade e os cidadãos”.
A IGAI – Inspecção-geral da Administração Interna – já abriu um inquérito aos suspeitos. Só que, por causa de uma indesculpável acção do Ministério Público, afinal, na GNR “há lugar para pessoas cujo comportamento possa corromper o compromisso de honra”. O regresso ao trabalho destes militares sob suspeita é de uma imensa gravidade e põe em causa a confiança dos cidadãos nas forças de segurança.»


O TELEMÓVEL COMO UM PEQUENO ALTAR

«O modo como muitos dos humanos estão virados para o telemóvel, canalizando para o ecrã todas as suas possibilidades corporais e toda a sua actividade intelectual, é semelhante à adoração obsessiva por um deus. Como se o ecrã do telemóvel fosse um pequeno altar portátil que exige uma espécie de oração quase contínua – nunca na História existiu religião mais exigente de atenção por parte do devoto.

Talvez seja, então, o momento de mudar de Deuses, e do deus-ecrã se passar para a velha Deusa que Goethe adorava, a Deusa da Presença.»

Gonçalo M. Tavares

VELHOS RECORTES


 Carta de Clarice Lispector para João Cabral de Melo Neto, reprodução do JL s/d.

MÚSICA PELA MANHÃ


8 de Dezembro de 1980.

John Lennon regressava a casa, em Nova Iorque, um fã louco disparou sobre o cantor 5 tiros de revolver e sentou-se no passeio.

Colaboração de Aida Santos.

PASSAREI PELA PRAÇA DE ESPANHA

O céu estará límpido.

As ruas abrir-se-ão

na colina de pinheiros e de pedra.

O tumulto das ruas

não mudará esse ar parado.

As flores das fontes

salpicadas de cores

abrirão os olhos como mulheres

divertidas. As escadas

os terraços as andorinhas

cantarão ao sol.

Abrir-se-á aquela rua,

as pedras cantarão,

o coração baterá em sobressalto

como a água nas fontes -

será esta a voz

que subirá as tuas escadas.

As janelas saberão

o odor da pedra e do ar

matinal. Abrir-se-á uma porta.

O tumulto das ruas

será o tumulto do coração

na luz extraviada.

 

Serás tu - quieta e clara.

 

28 de Março de 1950

Cesare Pavese

domingo, 7 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO

Dizem que a televisão fez diminuir a convivência. Não serão as dificuldades na convivência que introduz o poder da televisão?

Autor desconhecido.

ASSIM ERA E NÃO O QUE HOJE É...


Para Luís Montenegro e seus acompanhantes, recorda-se o que Sá Carneiro quis que o então P.P.D. fosse.

Legenda: folheto da exposição que a Ephemera tem patente na Mitra em Lisboa até 31 de Janeiro de 2026

COISAS DOS VELHOS TEMPOS

Paul Auster em Diário de Inverno.

NOTÍCIAS DO CIRCO

O navio cargueiro Holger G, de bandeira portuguesa, tem como destino o porto israelita de Haifa, onde deverá chegar a 30 de Dezembro e segundo os manifestos de carga leva nos porões 400 toneladas de material militar como bombas, granadas, torpedos, minas, mísseis e semelhantes munições militares e suas componentes; cartuchos e outras munições e projéteis e seus componentes.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, o ministro da Defesa  não comentam o assunto.

À LUPA

Na Indonésia, “há um consenso de que a invasão de Timor foi um erro”.

Há 50 anos, a “fobia anticomunista” — alimentada pelos EUA e até pelo Papa — levou à invasão de Timor-Leste.

A jornalista Bárbara Reis, no Público, lembra a data de 7 de Dezembro de 1975, quando se concretizou a invasão de Timor pela Indonésia.

«Às 3h da manhã de 7 de Dezembro de 1975, um domingo, os primeiros navios de guerra indonésios abriram fogo sobre Díli. Às 4h30, 400 fuzileiros desembarcaram numa praia ao pé da capital. Às 6h, nove Hércules lançaram pára-quedistas sobre a sede do governo. Às 8h, já havia corpos de militares e civis, mulheres e crianças, um pouco por toda a cidade. Começou assim a Operação Lotus, início da invasão indonésia de Timor-Leste. Seguiram-se 25 anos de ocupação, resistência e morte. A Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação de Timor-Leste, criada em Díli, em 2001, com ajuda da ONU, estabeleceu que, entre 1975 e 1999, morreram um mínimo de 102.800 pessoas — talvez 183 mil. Vinte mil foram assassinadas ou desapareceram e 84 mil morreram de fome ou de doença. A maior parte das mortes ocorreu nos anos 1970 e 1980, quando era quase impossível entrar em Timor-Leste. 

NESTE DIA


 Várias foram as tentativas que Jorge de Sena projectou para fazer Diários.

Mécia já nos avisara dessas dificuldades.

Estamos com o Diário de Jorge de Sena que abrange os anos de 1953/54.

A maior parte dos dias são ocupados com visitas aos seus pares, amigos, as leituras que vai fazendo, a música que vai ouvindo, os trabalhos e as traduções que tem entre mãos.

Iremos voltando  às páginas dos seus Diários.

Diz Sena:

«Quem me manda a mim sonharmcom Índias, mísero e poeta, num país de loucos?»

Estamos no ano de 1953, no mês de Dezembro e copio estes dias:

10.

Tradução

11.

Tradução

20.

Com um intervalo no café – a conversa incidiu sobre o Bispo de Beja e a sua pastoral probida – dia de tradução.

Ouço o muito belo para mim novo 5º concerto para piamo do Prokofieff.

25.

Telefonou o (António José) Saraiva a contar que esteve preso desde domingo até ontem. Fora com mais 50 pessoas ao aeroporto fazer recepção à Maria Lamas. Foi tudo engavrtado em Caxias, de onde ele saiu, mas onde ainda muitos ficaram. Claro que o nosso Silas lá está. E também o Keil, a Maria Keil e O’Neill, o Cortesão Casimiro, etc.. etc. Em todo o caso, creio que, se não os tivessem prendido – o que é uma coisa ridícula – teriam ficado desconsoladíssimos, pelo menos alguns como o Silas.

Dia inteiro de tradução.

28.

Num estado de cansaço insuportável (tanto trabalho, tanta arrelia), parei de traduzir para ouvir o concerto de violino em si maior, de Mozart-Casadeus e o 6º quarteto de Bela Bartok.

Legenda: imagem do Jornal da Voz do Operário