domingo, 6 de abril de 2025

OLHAR AS CAPAS


O Cego de Landim

Camilo Castelo Branco

Capa: Bernardo Marques

Colecção Mosaico nº 1

Edição de Fomento de Publicações, Lisboa s/d

Foi há treze anos, em uma tarde calmosa de Agosto, neste mesmo escritório, e naquele canapé que o cego de Landim esteve sentado. São inolvidáveis as feições do homem. Tinha cinquenta e cinco anos, rijos como raros homens de vida contrariada se gabam aos quarenta. Ressombrava-lhe no semblante anafado a paz e a saúde da consciência. Tinha as espáduas largas; cabia-lhe muito ar no peito; coração e pulmões aviventavam-se na amplidão da pleura elástica. Envidraçava as pupilas alvacentas com vidros esfumados, postos em grandes aros de ouro. Trajava de preto, a sobrecasaca abotoada, a calça justa, e a bota lustrosa; apertava na mão esquerda as luvas amarrotadas e apoiava a direita no castão de prata de uma bengala.

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