Ao contrário da
música clássica, o jazz não abundava lá por casa.
Lembro que,
volta e meia, o meu pai sentava-se na Biblioteca da Casa e ouvia,
religiosamente, um disco de Paul Robeson, mas será um tanto ou quanto abusivo
colocar Robeson no jazz, antes na folk, e não deixar de lembrar que, acima de
tudo, o importante estava na luta pelos direitos humanos dos negros americanos.
Ouvia os 5
Minutos Jazz do José Duarte, na 23ª Hora da Rádio Renascença, fui a 2
Concertos de Jazz em Cascais, no Sindicato da Marinha Mercante Aeronavegação e
Pescas, conheci o Luís Villas-Boas e aproveitei a boleia para algo mais saber
de jazz, pois era muito pouco o que sabia. Vagamente convivi com o José Duarte
no British-Bar e aproveitei para me chegarem mais dicas Jazzisticas.
Np British
fiquei a saber de um programa na Antena 1 que se transmitia aos domingos: A
Menina Dança?
Conta o Zé
Duarte:
«Fui convidado por Jaime Fernandes. Trabalhávamos na
Rádio Comercial. Tinha eu escrito um texto para "O Jornal" sobre
Irving Berlin, grande compositor norte-americano". Jaime Fernandes gostou
e ficou admirado de meu saber sobre aquela música. Convidou-me para fazer um
programa sobre "standards". Inventei então "a menina
dança?" que é um programa semanal dedicado a grandes nomes vocais da
música norte-americana e a grandes compositores do "American Song
Book".»
Maravilha das
maravilhas.
«Tudo acontece no salão de uma sociedade recreativa. É
um baile ao som de canções. Como as canções devem ser: cheias de «swing», a
puxar o pé para a dança. Ouvem-se os «crooners» ou - Bing Crosby, Dean
Martin, Tony Bennett – uns mais apaixonados, outros menos, ouvem-se outras
vozes que fizeram as músicas da América. Ouve-se Sinatra e as suas histórias.
Aos domingos à noite, quando a Menina encontra o seu par, são as grandes
orquestras que se tocam, num qualquer baile de despedida; e são as histórias à
margem do tempo que se relatam. O programa realizado por José Duarte podia ser
o cenário para os «Dias da Rádio» de Woody Allen. Mas não é. No que diz
respeito a rádio, vai mais longe.
«A Menina Dança» oferece um dos mais eficazes exercícios do uso da linguagem radiofónica: diálogos a uma voz definem cenários; afastam e atraem. Informam. E fazem com que a menina, de facto, exista. Ela é a personagem que ganha forma, a cada instante. Do desconhecimento da música passa ao espanto; e deste, ao saborear da descoberta. Mas isso não lhe basta: a Menina «troca as voltas», comanda o jogo e, às vezes, transforma num inferno a vida do seu par: a Menina torce um pé, a Menina pinta o cabelo de louro. A Menina é a Gata Borralheira que parte à meia-noite, abandonando o seu par.»
A menina, mais as suas danças, deixaram-nos a 30 de Dezembro de 2012.
Com José Duarte
toda a vida tem a ver com swing.
Perguntaram-lhe:
- Portugal tem swing?
- Não! Somos uma maioria quadrada.
Para encontrar o
indicativo para 5 Minutos Jazz, José Duarte vasculhou a enorme
quantidade de discos que tinha lá por casa. Acabou por descobrir Lou’s blues
tocado por Lou Donaldson.
É a música desta manhã. Também «The One I Love Belongs To Somebody Else» que José Duarte, numa carta que possivelmente Sinatra nunca leu, considerou ser esta canção «uma definitiva, perfeita obra-prima.
4 comentários:
Ó Caro Sammy, olhe que aos sábados de manhã, na Renascença, entre as 10h00 e as 12h00, costumo ouvir um programa delicioso com o Paulino Coelho e esse gigante da comunicação Júlio Isidro. Para além da excelente música é uma delícia ouvir as várias experiências/entrevistas/conversas que o Júlio Isidro já manteve com os mais famosos artistas musicais mundiais. Vale a pena ouvir.
Tenho uma grande admiração pelo Júlio Isidro pois, na minha opinião, é talvez o maior homem da comunicação em Portugal e a quem talvez ainda não tenha sido reconhecido o talento e mérito que tem.
É único-Cada frase, cada palavra que o Frank Sinatra canta se percebe inteiramente (na íntegra). É absolutamente fantástico/único.
Cada letra é audível.
Quem tem algo para contar, ensinar aos outros não necessita colocar-se em bicos de pés para se fazer notar. Isso é para os outros!...
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