sábado, 12 de abril de 2025

MÚSICA PELA MANHÃ


Ao contrário da música clássica, o jazz não abundava lá por casa.

Lembro que, volta e meia, o meu pai sentava-se na Biblioteca da Casa e ouvia, religiosamente, um disco de Paul Robeson, mas será um tanto ou quanto abusivo colocar Robeson no jazz, antes na folk, e não deixar de lembrar que, acima de tudo, o importante estava na luta pelos direitos humanos dos negros americanos.

Ouvia os 5 Minutos Jazz do José Duarte, na 23ª Hora da Rádio Renascença, fui a 2 Concertos de Jazz em Cascais, no Sindicato da Marinha Mercante Aeronavegação e Pescas, conheci o Luís Villas-Boas e aproveitei a boleia para algo mais saber de jazz, pois era muito pouco o que sabia. Vagamente convivi com o José Duarte no British-Bar e aproveitei para me chegarem mais dicas Jazzisticas.

Np British fiquei a saber de um programa na Antena 1 que se transmitia aos domingos: A Menina Dança?

Conta o Zé Duarte:

«Fui convidado por Jaime Fernandes. Trabalhávamos na Rádio Comercial. Tinha eu escrito um texto para "O Jornal" sobre Irving Berlin, grande compositor norte-americano". Jaime Fernandes gostou e ficou admirado de meu saber sobre aquela música. Convidou-me para fazer um programa sobre "standards". Inventei então "a menina dança?" que é um programa semanal dedicado a grandes nomes vocais da música norte-americana e a grandes compositores do "American Song Book".»

Maravilha das maravilhas.

«Tudo acontece no salão de uma sociedade recreativa. É um baile ao som de canções. Como as canções devem ser: cheias de «swing», a puxar o pé para a dança. Ouvem-se os «crooners» ou  - Bing Crosby, Dean Martin, Tony Bennett – uns mais apaixonados, outros menos, ouvem-se outras vozes que fizeram as músicas da América. Ouve-se Sinatra e as suas histórias. Aos domingos à noite, quando a Menina encontra o seu par, são as grandes orquestras que se tocam, num qualquer baile de despedida; e são as histórias à margem do tempo que se relatam. O programa realizado por José Duarte podia ser o cenário para os «Dias da Rádio» de Woody Allen. Mas não é. No que diz respeito a rádio, vai mais longe.

«A Menina Dança» oferece um dos mais eficazes exercícios do uso da linguagem radiofónica: diálogos a uma voz definem cenários; afastam e atraem. Informam. E fazem com que a menina, de facto, exista. Ela é a personagem que ganha forma, a cada instante. Do desconhecimento da música passa ao espanto; e deste, ao saborear da descoberta. Mas isso não lhe basta: a Menina «troca as voltas», comanda o jogo e, às vezes, transforma num inferno a vida do seu par: a Menina torce um pé, a Menina pinta o cabelo de louro. A Menina é a Gata Borralheira que parte à meia-noite, abandonando o seu par.»

A menina, mais as suas danças, deixaram-nos a 30 de Dezembro de 2012.

Com José Duarte toda a vida tem a ver com swing.

Perguntaram-lhe:

- Portugal tem swing?

- Não! Somos uma maioria quadrada.

Para encontrar o indicativo para 5 Minutos Jazz, José Duarte vasculhou a enorme quantidade de discos que tinha lá por casa. Acabou por descobrir Lou’s blues tocado por Lou Donaldson.

É a música desta manhã. Também «The One I Love Belongs To Somebody Else» que José Duarte, numa carta que possivelmente Sinatra nunca leu, considerou ser esta canção «uma definitiva, perfeita obra-prima.



4 comentários:

Seve disse...

Ó Caro Sammy, olhe que aos sábados de manhã, na Renascença, entre as 10h00 e as 12h00, costumo ouvir um programa delicioso com o Paulino Coelho e esse gigante da comunicação Júlio Isidro. Para além da excelente música é uma delícia ouvir as várias experiências/entrevistas/conversas que o Júlio Isidro já manteve com os mais famosos artistas musicais mundiais. Vale a pena ouvir.
Tenho uma grande admiração pelo Júlio Isidro pois, na minha opinião, é talvez o maior homem da comunicação em Portugal e a quem talvez ainda não tenha sido reconhecido o talento e mérito que tem.

Seve disse...

É único-Cada frase, cada palavra que o Frank Sinatra canta se percebe inteiramente (na íntegra). É absolutamente fantástico/único.

Seve disse...

Cada letra é audível.

Sammy, o paquete disse...

Quem tem algo para contar, ensinar aos outros não necessita colocar-se em bicos de pés para se fazer notar. Isso é para os outros!...