Arte
de Música
Jorge
de Sena
Prefácio:
Jorge Vaz de Carvalho
Posfácio:
Jorge de Sena
Assírio
& Alvim, Lisboa, Setembro de 2024
MISSA
SOLENE, OP. 123, DE BEETHOVEN
Não é solene esta
música
ao contrário do nome e
da intenção.
Clamores portentosos,
violência obsessiva
(por sob apelos doces,
lacrimosos)
De um ritmo orquestral
continuado,
Tanta paixão gritada,
tanto contraponto
Que teimosamente impede
que na tessitura
Das vozes e dos timbres
se interponha hiato
Não de silêncio mas de
um fio só
De melodia, por onde a
morte
Penetre interrompendo a
vida.
É medo, um
medo-orgulho, feito
de solidão e de
desconfiança. Não
piedosa tentativ para
captar um Deus,
ou ardente anseio de
união com Ele.
Não é também, com tanta
majestade,
a exigência de que Ele
exista,
porque o mereça quem
assim O inventa.
É um medo comovente de
que O não haja
para remissão dos
pecados, bálsamo
das feridas, consolo
das amarguras, dádiva
do que se não teve
nunca
ou se perdeu para
sempre. É
desejo ansioso de que
um Agnus
Dei
se interponha (ao
contrário da morte) mediador e humano
entre um nada feito
música
e outro possivelmente
Deus.
E a esperança
desesperada e que seja
uma grandeza nossa
quanto fique,
de pé, no intervalo
entre ambos.
2/11/1964
Sem comentários:
Enviar um comentário