É o nº 16 da Colecção Poetas de Hoje: Ciclo de Pedras de Luís Veiga Leitão com prefácio de Fernando Guimarães: «Significado e Estrutura da Poesia de Luís Veiga Leitão.»
Copio
o poema ilustrado que Luís Veiga Leitão escolheu para o seu livro:
Homem
É no silêncio do
caminho aberto:
Quanto maior a alma
maior o deserto
maior a sede e a
miragem
do mundo à nossa imagem
Gosto deste poema mas gostaria que tivesse sido escolhido:
A uma bicicleta
desenhada na cela
Nesta parede que me veste
Da cabeça aos pés, inteira,
Bem hajas, companheira,
As viagens que me deste.
Aqui,
Onde o dia é mal nascido,
Jamais me cansou
O rumo que deixou
O lápis proibido…
Bem-haja a mão que te criou!
Olhos montados no selim
Pedalei, atravessei
E viajei
Para além de mim.
Mas
o que conta aqui é o critério do autor.
Luís
Veiga Leitão desempenhava funções de escriturário numa Brigada Cadastral da
Federação dos Vinicultores da Região do Douro, quando foi demitido por ser
contra a ditadura salazarista.
Em
30 de Março de 1952 Luís Veiga Leitão foi preso pela PIDE e ficou em Caxias
cerca de um ano. Na cela 13 do Aljube, incomunicável, iniciou a redacção mental
dos poemas que memorizava, dizendo-os repetidas vezes em voz alta e foi-os
guardando na memória, os guardas a ouvi-lo chegaram a pensar que estava louco.
Veiga Leitão considerou esses poemas, ao todo 20 poemas, um diário de prisão, e
um itinerário das cadeias por onde passou: Pide do Porto, Aljube e Caxias.
Viria a publicá-los em 1955 num livro com o título Noite de Pedra -
imagens da noite fascista e que foi apreendido e proibido pela censura.
Luís
Veiga Leitão desempenhava funções de escriturário numa Brigada Cadastral da
Federação dos Vinicultores da Região do Douro, quando foi demitido por ser
contra a ditadura salazarista.
Recordo, como se fosse hoje, a leitura deste livro de Luís Veiga Leitão, um livro que me marcou profundamente, largamente sublinhado. Como este poema:
Manhã
- Bom dia. Diz-me um
guarda.
Eu não ouço...apenas
olho
das chaves o grande
molho
parindo um riso na
farda.
Vómito insuportável de
ironia
Bom dia, porquê bom
dia?
Olhe, senhor guarda
(no fundo a minha boca
rugia)
aqui é noite, ninguém
mora,
deite esse bom dia lá
fora
porque lá fora é que é
dia!
Num
seu livro de viagens, Livro de Andar e Ver cita Van Gogh:
«Há mais grandeza nuns
olhos humanos que numa catedral.»
Escreve
Fernando Guimarães no prefácio a Ciclo de Pedras:
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