sexta-feira, 4 de abril de 2025

REOLHARES


A secção Reolhares, a propósito dos 15 anos deste Cais, em que decidimos copiar textos que por aqui foram publicados, também dizem respeito ao que já foi apresentado em Olhar as Capas.

É o caso de hoje.

Na Biblioteca da Casa encontramos duas edições de Nuno Bragança: a que foi apresentada em 20 de Fevereiro de 2015 e foi editada pela Morais Editora, volume nº 2 da Colecção Círculo de Prosa e esta, editada pela Assírio e Alvim, (Dezembro de 1985), volume nº 5 da Colecção A Phala.

Comprei a edição da Assírio, a um preço bem acessível, num vão de escada da Rua Edith Cavel, porque está enriquecida com um prefácio de Manuel Gusmão, a razão primeira é que se trata de um grande livro que fica muito melhor com um grande prefácio.

« Estive na Cidade e vi lá uma desagradável balbúrdia.

Eu estava no pátio em frente ao Tribunal; e estava a beber água porque tinha muita sede. Nisto, gritos, patadas e pedidos de socorro: tudo dentro de uma capelista. Quando vi um polícia magro a limpar o cacete à aba do casaco percebi que o sarilho era curioso, porque o polícia era magro (o que me pareceu muito curioso). Fui ver e tive custo em perceber o que a capelista me explicou em lágrimas de raiva.

Parece que um homem que estava a comprar tabaco zangou-se com a Justiça e declarou que se ia queixar ao Ministro. Mas também estava ali um advogado, e disse ao homem que aquilo era asneira grossa.

«Porquê?», perguntou o homem.

«Por causa da Independência Jurisdicional», disse o advogado.

«O que é que isso quer dizer?», perguntou o homem que não era letrado.

«Quer dizer que ninguém manda nos Tribunais porque eles mandam em si mesmos ou seja uns com os outros.»

A bofetada foi tão grande que meia hora depois o homem se queixava da mão.

Custou-me um bocado não pregar um par de murros na capelista.

Porque é que estes advogados não se contentam com falar nos tribunais? E sobretudo não há direito que uma capelista se ponha aos berros só por causa dum episódio corriqueiro.»

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