A
secção Reolhares, a propósito dos 15 anos deste Cais, em que
decidimos copiar textos que por aqui foram publicados, também dizem respeito ao
que já foi apresentado em Olhar as Capas.
É
o caso de hoje.
Na
Biblioteca da Casa encontramos duas edições de Nuno Bragança: a que foi apresentada
em 20 de Fevereiro de 2015 e foi editada pela Morais Editora, volume nº 2 da Colecção Círculo de Prosa e esta, editada pela Assírio e Alvim, (Dezembro de 1985), volume nº 5 da
Colecção A Phala.
Comprei a edição da Assírio, a um preço bem acessível, num vão de escada da Rua Edith Cavel, porque está enriquecida com um prefácio de Manuel Gusmão, a razão primeira é que se trata de um grande livro que fica muito melhor com um grande prefácio.
« Estive na Cidade e vi lá uma desagradável
balbúrdia.
Eu estava no pátio em frente ao Tribunal; e estava a
beber água porque tinha muita sede. Nisto, gritos, patadas e pedidos de
socorro: tudo dentro de uma capelista. Quando vi um polícia magro a limpar o
cacete à aba do casaco percebi que o sarilho era curioso, porque o polícia era
magro (o que me pareceu muito curioso). Fui ver e tive custo em perceber o que
a capelista me explicou em lágrimas de raiva.
Parece que um homem que estava a comprar tabaco
zangou-se com a Justiça e declarou que se ia queixar ao Ministro. Mas também
estava ali um advogado, e disse ao homem que aquilo era asneira grossa.
«Porquê?», perguntou o homem.
«Por causa da Independência Jurisdicional», disse o
advogado.
«O que é que isso quer dizer?», perguntou o homem que
não era letrado.
«Quer dizer que ninguém manda nos Tribunais porque
eles mandam em si mesmos ou seja uns com os outros.»
A bofetada foi tão grande que meia hora depois o homem
se queixava da mão.
Custou-me um bocado não pregar um par de murros na
capelista.
Porque é que estes advogados não se contentam com
falar nos tribunais? E sobretudo não há direito que uma capelista se ponha aos
berros só por causa dum episódio corriqueiro.»
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