José
Saramago é de opinião que as melhores personagens dos seus livros são mulheres.
Mas nunca
teve uma relação fácil com a mãe.
A morte
prematura de Francisco, seu irmão mais velho, abalará profundamente qualquer relacionamento.
O relacionamento com os pais aparece como uma situação delicada na infância do
escritor. Por dificuldades económicas, as constantes mudanças de partes de casa
em Lisboa não ajudavam em nada a situação. Os afectos estão ausentes, apenas palavras
soltas acontecem entre mãe e filho. Também o silêncio. «O silêncio por definição é o que não se ouve». Saramago reconhece
nas suas Pequenas Memórias certa
secura que a sua mãe lhe dispensaria durante toda a infância. Também numa
conversa com Juan Arias:
«Tive um
irmão, dois anos mais velho do que eu, que morreu muito cedo, e recordo que a
minha mãe, evidentemente de maneira inconsciente, me fez sofrer quando era
pequeno, comparando-nos e elogiando o filho desaparecido. A vida fez dela uma
mulher algo dura, austera. Lembro-me de que lhe pedia um beijo e que nuna me
dava. Isso que é o normal na relação entre mãe e filho, sobretudo quando se é um
miúdo pequeno, em que ela está sempre a fazer-nos festas e a dar-nos beijos, eu
não o tive. Isso doía-me muito e, por fim, quando, perante a minha insistência,
minha mãe me dava um beijo era de fugida. Gostava muito de mim, nunca duvidei,
mas a expressão do seu amor comigo bloqueava-se-lhe.»
José
Saramago numa entrevista à Folha de S. Paulo, 18 de Outubro de 1995;
Sem comentários:
Enviar um comentário