Dizem, os entendidos, que os melhores caracóis de Lisboa são os do “Filho do Menino Julio dos Caracóis”: os caracóis são lavados de um dia para o outro, ficam trinta minutos a coser em lume brando, junta-se-lhe cebola, alho e sal e o resto, e é aqui que reside o segredo da casa, a chave que só a gente de confiança do Filho do Menino Júlio, sabe como se roda. Ou seja: o ramo de orégãos e a volta que terá de ser dada, o tempo em que a ervinha percorre a tachada de caracóis
Não sendo os caracóis a minha chávena de chá, apenas os petisco, com o fim de acompanhar uns fininhos, uma garrafa de branco.
“O Filho do Menino Júlio dos Caracóis”, Vasco Rodrigues de seu nome, é um sportinguista de todos os costados, e. como tal, rodeou a sala de mastigação com enormes painéis fotográficos que são as bancadas do Estádio Alvalade XXI.
Os benfiquistas, e não só, diziam de si para si que, se para o outro Paris valia bem uma missa, os caracóis do “Filho do Menino Júlio dos Caracóis” mereciam o sacrifício de estar por ali a comê-los rodeado pelas bancadas de Alvalade.
Acontece que o negócio cresceu desalmadamente e o “Filho do Menino Júlio dos Caracóis” , para corresponder às exigências, viu-se na necessidade de comprar o estabelecimento ao lado para alargar as instalações. Mas ao fazê-lo, retirou parte dos painéis do “Alvalade XXI” para os colocar na nova sala. Eu, que até sou benfiquista, terei que dizer que o “Filho do Menino Júlio dos Caracóis” deu um tiro no pé. Não na conta bancária, of course, mas a casa perdeu toda a graça, aquele “kitsch” que lhe ficava a matar.
Acresce que os caracóis já não têm a qualidade de outros tempos. Talvez o assassínio da decoração tenha a ver com tudo isso. Ou, recorrendo de novo aos especialistas, há a dizer que os caracóis perderam qualidade, porque são importados de Marrocos.
É esta a triste sina, de, todos os dias, assistirmos à destruição do que de típico, de diferente, as tascas de Lisboa possuíam. Não aparecemos durante uns tempos e quando se regressa, já nada é como era…
Coisas da globalização, ou lá o que lhe quiserem chamar…
Pela parte que me toca, faço “requiem” aos caracóis do “Filho do Menino Júlio dos Caracóis". Só lá voltarei quando for reposta a legalidade, quando as bancadas do “Alvalade XXI” voltarem a rodear a antiga sala.
E para finalizar a prosa, com uma grande chapelada ao Hélder Pinho, vou aos “Textos Locais” do Luiz Pacheco sacar este delicioso pedacinho:
“Mas nem tudo são desgraças: eis que me trazem caracóis. É o meu puto um velhaco de quatro anos que foge de casa manhã cedo e por lá se governa todo o dia sei lá como, que traz caracóis para o velho abade do Pai. Caracóis, sabeis, é comida de sustância, peitoral, faz (dizem) tesão.”
Legenda: “O Filho do Menino Júlio dos Caracóis”, Rua Vale Formoso de Cima nº 140.
Pela parte que me toca, faço “requiem” aos caracóis do “Filho do Menino Júlio dos Caracóis". Só lá voltarei quando for reposta a legalidade, quando as bancadas do “Alvalade XXI” voltarem a rodear a antiga sala.
E para finalizar a prosa, com uma grande chapelada ao Hélder Pinho, vou aos “Textos Locais” do Luiz Pacheco sacar este delicioso pedacinho:
“Mas nem tudo são desgraças: eis que me trazem caracóis. É o meu puto um velhaco de quatro anos que foge de casa manhã cedo e por lá se governa todo o dia sei lá como, que traz caracóis para o velho abade do Pai. Caracóis, sabeis, é comida de sustância, peitoral, faz (dizem) tesão.”
Legenda: “O Filho do Menino Júlio dos Caracóis”, Rua Vale Formoso de Cima nº 140.
1 comentário:
Aliás, tal como os caracóis, o Sporting já não é o que era...
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