Os Cine Clubes tiveram, em Portugal, um papel importantíssimo na formação dos espectadores de cinema, emprestando-lhes a dignidade que o negócio da indústria cinematográfica escamoteava.
Exibiram filmes fora dos circuitos comerciais, alguns proibidos pela censura, fizeram ciclos, publicaram boletins, promoveram palestras, desencadearam o debate.
Alves Costa, em Novembro de 1947, referia:
Em Portugal, onde o cinema só por um pequeno sector é tomado realmente a sério, não se tem dado ao público incentivo ou meios para criar um cultura cinematográfica e um conhecimento das obras mais representativas dos melhores autores (…) Porque o cinema é também um comércio, o público não encontra o que porventura procura ou deseja, mas o que semanalmente lhe dão, bom e mau, indiscriminadamente e sem orientação.
Cedo a ditadura reconheceu que o papel dos cineclubes ia mais além do que a exibição de filmes e mais não eram que um meio para combater o baixo nível intelectual e cultural a que nos obrigavam.
Não poucas vezes, a PIDE/DGS, fechou as sedes dos cineclubes, mas acordaram tarde demais: as sementes germinavam um pouco por todo o lado.
Esta é a capa do programa (8 páginas) do Cine Clube do Porto referente à exibição, pelo Cine Clube do Porto, do filme Vamo-nos Amar de George Cukor sessões que tiveram lugar no Cinema Batalha, nos dias 15/16 de Outubro de 1967.
Para além da ficha técnica, o programa incluía uma crítica ao filme, retirada da Cinéma 60, assinada por T.P. Coursodon, na 2ª página pode ler-se o excerto de um artigo, assinado por uma bisbilhoteira, Valentine de Coincoin, publicado no Canard Enchainé, e que em poucas palavras mostra a ciumeira que Marilyn provocava, a teia de hipocrisia que a rodeava:
A sua morte não terá mais importância do que a sua vida. Não há razão para se decretar luto internacional lá porque uma estúpida rapariga vistosa caíu vítima da vertigem que a auto-contemplação suscita nas pessoas vaidosas.
Na 3ª página, um título:
Quem matou Marilyn Monroe?
Pode ler-se:
Na sua última entrevista publicada (Life, 3 de Agosto de 1962), que foi com efeito um testemunho muito revelador, até pela sua liberdade, Marilyn Monroe cita Goethe dizendo: «O talento cultiva-se na intimidade».
Trata-se de um artigo de Alvah Bessie, publicado, em Outubro 1962, na Positif 48.
(Para uma maior facilidade de leitura, clicar sobre a imagem dos textos.)
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