No seu livro, Crónicas da América, Luís Miguel Mira, dedica todo um capítulo à revisitação que fez aos lugares de Vertigo.
No post seguinte publicam-se as fotografais dos lugares e as respectivas legendas:
Eu já tinha percebido que, cada vez que penso ter uma grande “pancada” por qualquer coisa (um livro, um filme, uma música, ….), aparece sempre alguém que tem exactamente a mesma “pancada” que eu tenho, mas elevada à décima potência. E isso aconteceu-me de novo agora, com a história que vos vou contar. “Vertigo”, que Alfred Hitchcock realizou em 1958, é um dos filmes da minha vida, daqueles que levaria, sem pestanejar, para a tal ilha deserta. Razões há muitas, objectivas e subjectivas, mas não é isso que me trás hoje aqui. Acontece que, neste meu regresso a San Francisco, tinha decidido fazer uma peregrinação mais ou menos exemplar aos lugares onde “Vertigo” foi filmado. Não me perguntem porquê. Apeteceu-me… Podia ter-me dado para outra coisa, mas deu-me para isso…! Ainda em Lisboa, revi pela enésima vez o filme com muito cuidado, tomei as anotações que me pareceram necessárias e, ao chegar a Frisco, meti mãos à obra.
Quanto já estava no Palace of the Legion of Honor, um dos lugares de “Vertigo”, reparei que estava anunciado um ciclo de Cinema exclusivamente com filmes rodados em SF, e vi que esse ciclo se iniciava, precisamente, com o “Vertigo”. Reparei, também, que a sessão de abertura incluía uma palestra de Jef Kraft, um dos autores do livro “Footspeps in the Fog – Alfred Hitchcocks’s San Francisco”. A milésima obra sobre Hitchcock, disse cá para mim, e segui caminho porque, já que tinha vindo ao museu, aproveitaria para ver uma exposição sobre “Women Impressionists” que me pareceu interessante, e era mesmo. No final segui o meu velho hábito de passar pela livraria do museu comprar um catálogo da exposição e reparei numa enorme pilha de livros que lá estavam, que não eram mais do que o tal “Footsteps in the Fog” sobre o Hitchcok de que vos falei. Folheei-o, por curiosidade, e nem queria acreditar no que os meus olhos viam.
O que os malucos dos dois autores (Aaron Leventhal é o co-autor) faziam no seu livro não era mais do que aquilo que eu me preparava para fazer com o “Vertigo”! Eles estavam-se nas tintas para os aspectos éticos, estéticos e técnicos da obra de Hitchcock, e a única coisa que lhes interessava eram os aspectos, digamos, paisagísticos. Propunham-se inventariar todas as cenas de exteriores que aparecem nos filmes do autor de “Os Pássaros” que tivessem sido filmadas na Califórnia, mesmo que o enredo situasse a acção noutro local ou noutro país, como era o caso de “Rebecca”, de que já aqui vos falei. E o objectivo do livro era colocar, a par, um fotograma do filme com uma fotografia do local onde a cena tivesse sido filmada, tal como está nos dias de hoje. Levaram esse propósito até às últimas consequências: se as cenas se passassem em telhados, eles iam à procura dos telhados…; tratando-se de uma cena de interiores, mas com uma determinada vista que se apercebia ao fundo, de uma janela, eles iam à procura dessa vista…; e por aí fora…
É claro que comprei logo o livro e é também óbvio que ele me foi de grande utilidade na minha pesquisa, fazendo-me ganhar tempo e dando-me certezas absolutas em aspectos onde, até então, só tinha dúvidas. A brincadeira que agora vos proponho é essa: passar aqui as minhas fotografias dos lugares de “Vertigo” que seleccionei, e comentá-las. Espero que se lembrem razoavelmente bem do enredo do filme, porque não lhes irei contar a história toda… Mas, como “pontapé de saída”, sempre vos recordarei que Scottie Fergunson (James Stewart) era um detective da polícia de San Francisco que, juntamente com outro colega, perseguia um ladrão pelos telhados de um edifício da cidade quando, ao dar um salto entre telhados, escorregou e ficou agarrado a um parapeito. O colega deitou-lhe uma mão para o ajudar mas Scottie sofria de vertigens e descontrolou-se.
Acabou por sair ileso da situação, mas pior sorte teve o colega que se despenhou no vazio. Estava Scottie a preparar-se para entrar em pré-reforma quando um antigo colega da Universidade, Gavin Elster, foi ter com ele e lhe pediu ajuda num trabalho. A sua mulher, Madeleine (Kim Novak) estava com comportamentos estranhos e ele queria que Scottie a seguisse. Scottie começou por recusar, mas Gavin assegurou-lhe que não se tratava de nenhum problema passional… Era coisa mais grave que lhe fazia temer pela própria vida da mulher. Combinaram, então, que se encontrariam num restaurante para que Scottie visse a mulher, e depois logo decidiria se aceitaria o trabalho, ou não, … E é claro que Scottie, depois de ver a Madeleine/Kim Novak, aceitou…!
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