domingo, 5 de agosto de 2012
ORAÇÂO POR MARILYN MONROE
Senhor,
recebe esta rapariga
conhecida em toda a Terra com o nome de
Marilyn Monroe
se bem que esse não fosse o seu nome verdadeiro
(mas tu conheces
o seu nome verdadeiro, o da pequena
orfã violada aos 9 anos
e da empregadita de balcão que aos 16 anos se quis matar)
e que agora se apresenta diante de Ti sem qualquer
maquilhagem
sem o seu Agente de Imprensa
sem fotógrafos e sem assinar autógrafos
sozinha como um astronauta frente à noite espacial.
Quando menina ela sonhou que estava nua numa igreja
(segundo conta a “Time”)
ante uma multidão prostrada, com as cabeças no chão
e tinha de andar nos bicos dos pés para não pisar
as cabeças.
Tu conheces os nossos sonhos melhor do que os
Psiquiatras.
Igreja, casa, caverna são a segurança do seio materno
mas também algo mais do que isso…
as cabeças são os admiradores, é claro
(a massa de cabeças na escuridão sobre o jorro de luz)
Mas o templo não são os estúdios da 20th Century Fox.
o templo – de mármore e ouro – é o templo do seu corpo
onde está o Filho do Homem com um açoite na mão
expulsando os vendilhões da 20th Century Fox
que fizeram da Tua casa de oração uma caverna de Ladrões.
Senhor
neste mundo contaminado de pecados e radioactividade
Tu não culparás apenas uma empregadita de balcão
que, como toda a empregadita de balcão sonhou ser
estrela de cinema.
E o seu sonho foi realidade (mas uma realidade de technicolor).
Ela não fez mais do que representar conforme o script
que lhe demos
- o das nossas própria vidas .- e era um script absurdo.
Perdoa-lhe Senhor e perdoa-nos a nós
pela nossa 20th Cntury Fox
por essa Colossal Superprodução em que todos temos
trabalhado.
Ela tinha fome de amor e oferecemos-lhe tranquilizantes
para a tristeza de não sermos santos recomendou-se-lhe
a Psicanálise.
Recorda Senhor o seu pavor crescente da câmara
e o ódio à maquilhagem – insistindo em maquilhar-se em
cada cena –
e como foi fazendo-se maior o horror
e maior a falta de pontualidade nos estúdios.
Como toda a empregadita de balcão
sonhou ser estrela de cinema
e a sua vida foi irreal como um sonho que um psiquiatra
interpreta e arquiva.
Os seus romances foram um beijo de olhos fechados
daqueles que uma pessoa quando abre os olhos
descobre que foi debaixo dos reflectores
e apagam os reflectores
e desmontam as duas paredes do quarto (era um set
cinematográfico)
enquanto o Realizador se afasta com o guião porque a
cena já foi filmada.
ou como uma viagem de iate, um beijo em Singapura, um
baile no Rio
a recepção na vivenda do Duque e da Duquesa de Windsor
vistos na saleta do apartamento miserável.
O filme acabou sem o beijo final.
Acharam-na morta na cama e com a mão no telefone.
E os detectives não souberam com quem ela queria falar.
Foi
como alguém que marcou o número da única voz amiga
e ouve tão só a voz de um disco dizendo-lhe WRONG
NUMBER.
ou como alguém que ferido pelos gangsters
estende a mão para um telefone desligado.
Senhor
quem quer que tenha sido a pessoa a quem ela queria
falar
e não falou ( e talvez não fosse ninguém
ou era Alguém cujo nome não está na Lista de Assinantes
dos Anjos)
-atende Tu o telefone!
Ernesto Cardenal
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário