domingo, 15 de maio de 2016

OLHAR AS CAPAS


Hamlet

William Shakespeare
Tradução: D. Luís de Bragança
Círculo de Leitores, Lisboa, Janeiro de 1983

Ainda aqui estás, Laertes? para bordo, para bordo, Não te envergonhas? Teu navio só te espera para velejar. Recebe a minha bênção, e grava na tua memória os seguintes preceitos: Guarda par ti o pensamento, e não dês execução apressadamente aos teus projectos; medita-os maduramente. Sê llano sem te esqueceres de quem és. Quando tomares um amigo cuja afeição tenhas experimentado, liga-o a ti por vínculos de aço; mas não dês confiança irreflectidamente. Faz por evitar questões; mas se o não puderes conseguir, conduz-te de maneira que fiques sempre superior ao teu adversário. Ouve a todos, mas sê avaro de palavras; escuta o conselho que te derem, forma depois o teu juízo. No teu trajar sê tão sumptuosos, quanto to permitam os teus meios, mas nunca afectado; rico, mas não ofuscante; o porte dá a conhecer o homem, e nesse ponto, as pessoas de qualidade em França revelam um gosto primoroso, e o mais fino tacto. Não emprestes, nem peças emprestado; quem empresta perde o dinheiro e o amigo, e o pedir emprestado é o primeiro passo para a ruína. Mas sobretudo sê verdadeiro para a tua consciência, e assim como a noite se segue ao dia, seguir-se-á também, que o teu coração jamais abrigará falsidade. Adeus, que a minha bênção sele em teu coração os meus conselhos.

Sem comentários: