Hamlet
William
Shakespeare
Tradução: D.
Luís de Bragança
Círculo de
Leitores, Lisboa, Janeiro de 1983
Ainda aqui estás, Laertes? para bordo, para
bordo, Não te envergonhas? Teu navio só te espera para velejar. Recebe a minha
bênção, e grava na tua memória os seguintes preceitos: Guarda par ti o
pensamento, e não dês execução apressadamente aos teus projectos; medita-os
maduramente. Sê llano sem te esqueceres de quem és. Quando tomares um amigo cuja
afeição tenhas experimentado, liga-o a ti por vínculos de aço; mas não dês
confiança irreflectidamente. Faz por evitar questões; mas se o não puderes
conseguir, conduz-te de maneira que fiques sempre superior ao teu adversário.
Ouve a todos, mas sê avaro de palavras; escuta o conselho que te derem, forma
depois o teu juízo. No teu trajar sê tão sumptuosos, quanto to permitam os teus
meios, mas nunca afectado; rico, mas não ofuscante; o porte dá a conhecer o
homem, e nesse ponto, as pessoas de qualidade em França revelam um gosto
primoroso, e o mais fino tacto. Não emprestes, nem peças emprestado; quem
empresta perde o dinheiro e o amigo, e o pedir emprestado é o primeiro passo
para a ruína. Mas sobretudo sê verdadeiro para a tua consciência, e assim como
a noite se segue ao dia, seguir-se-á também, que o teu coração jamais abrigará
falsidade. Adeus, que a minha bênção sele em teu coração os meus conselhos.
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