A cada passo se formam por aí grupos literários. Há-os
em todas as gerações. Os rapazes sentiram sempre necessidade de comunicar e
juntam-se conforme o caso, as afinidades ou as aspirações.
É um momento delicioso que nos deixa para sempre um
nada de poeira no fundo da alma – algum pó dourado que teima em reluzir até ao
fim da vida. Já o passado fica muito longe, já as figuras de apagadas mal se
distinguem e ainda a poeira de sonho teima lá no fundo… E que essas horas são
como a primeira flor das árvores: não há nada que as pague. Por melhores e mais
conscientes amizades que mais tarde se adquiram, nenhuma chega à dos vinte
anos, quando o homem não tem interesses a defender e os sentimentos estão em
pleno viço. Não há um de nós que saiba ainda o que vale a existência e todos de
mãos dadas olhamos com sofreguidão e candura. É o começo delicioso duma
aventura. Estamos juntos e unidos como irmãos e já sentimos o travor da
separação: só mais um passo e cada um parte para o seu lado, sem às vezes se
tornar a ver.
Valia a pena determo-nos a olhar a vida, tingida de
névoa azul como certas paisagens que só são belas de longe – a vida como nunca
mais nos será dado vê-la – mas quem é que nessa idade se detém?
Raul Brandão em A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore
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