Um dos argumentos dos defensores do Acordo é
que se trata apenas de mudar a ortografia e isso não muda a língua. Foi o
argumento com que se me respondeu quando falei do abastardamento do português
que, no meu ponto de vista e no de muitos outros, resulta da aplicação das
novas regras ortográficas. Considero o argumento absurdo, como se na língua que
falamos e lemos – insisto, falamos e lemos – a imagem física das palavras não
contasse, e fosse o mesmo escrever aspeto e aspecto. As palavras transportam uma
dimensão cultural e na sua escrita não são mera ortografia, como melhor do que
ninguém João Guimarães Rosa compreendeu, tratando a língua portuguesa como
sentido, som, e imagem.
O Acordo Ortográfico não é ciência, nem lei,
é política. Como política, é prejudicial à nossa cultura a nível nacional e
como elemento de política externa é um acto político clamorosamente falhado e
cujas consequências do seu falhanço caem essencialmente sobre Portugal. O
Presidente teve a coragem de levantar o assunto, convinha agora dar ao seu acto
a força da opinião pública. Há muitas maneiras de o fazer, e os juristas e
constitucionalistas certamente que encontrarão forma de dar expressão legal a
esta “reversão”. Pode considerar-se a sua caducidade visto que não está a ser
aplicado pelos outros signatários, “reverter” a sua imposição administrativa,
ou, levar os portugueses a pronunciarem-se em referendo, mesmo que de forma não
vinculativa, sobre o Acordo. Não são os opositores do Acordo quem tem medo do
referendo, bem pelo contrário. Mas o tempo urge, visto que os defensores do
Acordo pouco mais têm a seu favor do que a inércia.
José Pacheco
Pereira no Público
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