segunda-feira, 15 de março de 2010
OS CLÁSSICOS DO MEU PAI
São duas da madrugada do dia 13 de Fevereiro de 1973.
A Aida sentiu chegada a hora de ir para a maternidade.
Rua fora, a Aida, eu, de mala na mão, a Fernanda, o Tó, a pé, a caminho da maternidade.
Ainda se podia andar, em segurança, nas madrugadas de Lisboa.
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Deixámos a Aida, regressámos a casa.
Sentei-me sem saber muito bem o que fazer. Não tinha telefone, mas calculei que o meu pai teria já teria chegado do jornal, e arranquei para a Mestre António Martins.
Como hábito velho, o meu pai acabara de petiscar, lia um policial e, num caixote-leitor-de-cassettes, ouvia música.
Não me apetecia comer e fui buscar uma garrafa de gin “Bols” que por lá havia.
Mas de água tónica, nada. O meu pai era mais “scotch”, com o qual nunca tive grandes afinidades.
Enchi um copo meio de gelo, despejei-lhe gin e o sumo de um limão raquítico, sem casca que fora aproveitada, pela minha mãe, para fazer chá.
A cassette que, quando cheguei, o meu pai ouvia, era a 9ª Sinfonia do Dvorak.
Terminou a sinfonia e ainda ficámos por ali a conversar de qualquer coisa, o tempo a passar.
O dia queria romper e regressei a casa.
Pelo caminho meteu-se-me na cabeça que a 9ª Sinfonia me iria acompanhar sempre que alguma coisa de extraordinário acontecesse.
Assim um pouco como o Jack Nicholson para a Kathleen Turner em “A Honra dos Padrinhos”, que hei-de ver anos mais tarde , o filme do John Huston é de 1985.
Jack Nicholson no terraço do Hotel com a Kathleen Turner, uns Mariachis estão a tocar.
Jack Nicholson está com aquele casaquinho amarelo, que Kathleen ,minutos antes. dissera que lhe ficava a matar.
“Charlie Pargana – Que estão a tocar?
Irene Walker – “Noche de Ronda”
Charlie Pargana – Nunca me esquecerei desta música. Nunca esquecerei esse vestido. Nunca esquecerei nada do que se passou hoje. Seja para onde for que vamos, sempre que tocarem esta música… esta será a nossa música.”
Por aqueles tempos ainda não existiam métodos para, antecipadamente, se saber o sexo da criança.
O Mário nasceu às 10,30 da manhã.
A imagem, em cima, é a da cassette que o meu pai ouvia nessa madrugada.
A gravação é da RCA, interpretação da "Reiner Chicago Symphony, sem indicação do maestro que conduz a orquestra e sem data de edição.
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