quinta-feira, 11 de março de 2010

MONTENEGRO, UM PAÍS




Entre os romancistas policiais, digamos de cabeceira, está Rex Stout. O que equivale a dizer que estou a falar do seu detective Nero Wolf, o seu assistente Archie Goodwin, Fritz o chefe “gourmet”.

Não sei quando terei lido “A Montanha Negra”

O original é de 1954, o nº 275 da “Colecção Vampiro”, da “Livros do Brasil”, não tem data de edição. Mas foi muito antes de, em Junho de 2006, a ONU ter aceite Montenegro como nação independente, com capital em Podgorica.

Em 21 de Maio de 2006 um referendo determina a vontade do povo montenegrino se tornar independente, rompendo os laços políticos com a Sérvia.

Quando Rex Stout escreve o livro, Montenegro estava integrado na Jugoslávia, dirigida pelo Marechal Tito.

Nero Wolf é montegrino, radicou-se em Nova Iorque, tornou-se um célebre detective, bebedor de cerveja, dificuldades em deslocar-se, apenas passeios curtos, deslocações para a secretária, para a mesa, durante as refeições não se falava de trabalho, para a estufa onde, com amor e carinha tratava das suas orquídeas e, enquanto durava esse trabalho, não admitia interrupções.
Por uma vez, Nero Wolf, deslocou-se à Pátria para resolver um dos seus casos e, naturalmente, acompanhado por Goodwin, que faz o relato da viagem, e adverte o leitor que o livro poderá ser “uma impostura” porque a maior parte das conversas desenrolaram-se em línguas para ele desconhecidas, sujeito às lacónicas traduções de Wolfe, mas não resistiu à tentação de o escrever.

Aqui estamos em Montenegro, onde os turcos se agarraram às escarpas durante séculos, sem qualquer benefício,
confessa Wolf ao secretário.


A páginas 36, da edição portuguesa, Goodwin informa-nos:

Conseguiu-se muito. Ficámos a saber uma quantidade de coisas acerca das dez organizações mencionadas na lista telefónica de Manhattan, cujos nomes começavam por “Jugoslávia”, e ficámos a saber igualmente a saber que os Sérvios não vão muito à bola com os Bósnios e ainda menos com os croatas, e que a esmagadora maioria dos jugoslavos de Nova Iorque são contra Tito e praticamente todos anti-soviéticos. Aprendemos, também, que oito por cento dos porteiros da Avenida do Parque são jugoslavos; que os nova~iorquinos que são, ou cujos pais foram, oriundos da Jugoslávia, gostam pouco de falar com desconhecidos e ninguém lhes arranca nada se percebem que estamos a querer bisbilhotar; e muitas outras coisas, algumas das quais pareceram dar uma ténue esperança de conduzir ao tipo que metera três balas no corpo de Marko Vukcic. Mas todos os rebates foram falsos.

Foi assim que, quando Montenegro se tornou independente, me lembrei do mistrioso fascínio que a leitura de “A Montanha Negra” me deixou.

Por uma destas noites irei relê-lo.

A capa do livro é de Lima de Freitas, e aqui tiro o boné às lindíssimas capas da “Vampiro”, também da “Colecção Argonauta”. Nelas os nossos melhores pintores criaram capas inesquecíveis, parte delas muito superiores ao conteúdo de alguns dos livros.

Infelizmente esta tradição viria a perder-se e, a partir de dada altura, as capas passaram a ser “chapa 5”, sem qualquer pingo de criação, de arte.

Algumas dessas capas irão aparecendo por aqui.

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