quarta-feira, 3 de março de 2010

MEMÓRIAS


Quando fechei a casa do meu pai, na escrivaninha, que ele mesmo desenhou e carpinteirou, encontrei, dentro de um envelope, algumas fotografias.

Por fora, o envelope dizia: família do Francisco.

Todas as fotografias contidas no envelope, foram identificadas, no fundo eram fotografias minhas e da minha irmã, enquanto crianças, enviadas à avó Aninhas. Após a morte da avó , as fotografias foram devolvidas ao meu pai.

Mas das fotografais uma ficou que não conseguimos deslindar e nas costas não possui qualquer elemento identificativo, tão pouco uma data.

Quem são estes cinco homens, um deles com uma criança ao colo, outro deitando vinho de uma garrafa para um copo, que um outro homem segura? Todos têm bigode.

A Aida admite que um deles, aquele calmeirão que está lá atrás, seja o meu bisavô paterno. Numa outra fotografia, essa identificada, ele está com o meu avô Mário, e a Aida encontra parecenças. Chamava-se Isidoro.

Ninguém está vivo para contar seja o que for.

A única possibilidade seria a minha mãe, mas já perdeu a capacidade de ver mais qualquer coisa que não seja aquele mundo que, agora só ela vê., ou pensamos que ela vê...

A fotografia fica aqui.

Talvez seja, realmente, da família do Francisco.

Colocando os pormenores de lado, digo que é uma fotografia curiosa, que, passados todos estes anos, consegue transmitir um sentimento de ternura.

Família, o quer que seja, sabe-se que cinco homens, um deles com uma criança ao colo, outro deitando vinho de uma garrafa para um copo, que um outro homem segura, juntaram-se para uma fotografia.

Parecem bem dispostos.

Penso, que foi o Henry Miller que disse, que a missão do homem na terra é lembrar-se.

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