terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

O OUTRO LADO DAS CAPAS

Fernando Relvas morreu aos 63 anos, resultado de excessos e sabe-se lá mais o quê, coisas que acompanham a vida de artistas.

Conhecemos o Relvas no tasco que a Aida teve em Almoçageme. Ele vivia por lá, num palheiro que funcionava como atelier e tudo o resto.

Um tipo divertido que um dia perguntou à Aida se permitia que contactasse alguns clientes para lhes fazer o retrato que acontecia numa folha A4 e as tintas eram o tinto que o tasco vendia em pipos. Relvas beneficiava de um desconto que o tasco fazia a artistas, mas necessitava de mais alguns tostões para pagar a renda do palheiro, bem como outras sobrevivências.

Como escreveu João Paulo Cotrim:

«Há um síndroma Relvas: o talentoso boémio indisciplinado e irascível que não consegue cumprir um prazo, acabar uma história, fixar-se num estilo, publicar um álbum. Uma espécie de metáfora da banda desenhada em Portugal, que, com pequenas alterações, vai funcionando como álibi para justificar o Estado das Coisas. Como na maioria das ideias feitas, a parte da verdade senão está morta moribundou-se.»

Diálogo tirado de um Auto-Retrato:

«No meio disto podemos dizer que a tua sobrevivência não tem sido fácil…

-Não tem, não senhor.

Mas desenvolveu aquele teu outro grande talento que é o de conseguir viver com pouco dinheiro.

Não sei se isso será propriamente um grande talento…» 

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