terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

NÓS

Quem não quer vir, que não venha.

que o dó me faz perdoar

e persistir na campanha.

Talvez,

quando eu já for percebido,

se arrependam,

e a troça então se lhes mude

num sorriso constrangido.

 

Não venham, que eu vou por eles

e gritam por minha boca

suas bocas,

fechadas, ou por vergonha,

ou por orgulho, ou por falta

de aquela fé que me arrasta.

 

Descansem!....

Se eu lá chegar, faz de conta

que quem chegou foram eles;

e faço da multidão

a capa para os meus ombros;

e Deus, que não me distingue

(eu com todos me pareço),

pra não deixar-me sem prémio

há-de dar a cada qual

que eu só mereço.

 

Se eu lá chegar....

Mas eu chego!...

Nem que de aqui a três passos

se me cansassem os braços

e as pernas se me partissem

e a vida se me acabasse,

ali, na terra, caído,

eu já teria chegado:

tanto vale minha Esperança,

que o Céu começa onde quer

que eu solte a última voz;

e a Mão que as feridas me afague,

no gesto de as afagar,

deixou as portas do Céu

abertas de par em par.

 

Onde eu morrer, já cheguei.

As portas hão-de se abrir,

por Prémio que Deus me deu.

E eu vou entrar, arrastado

por todos vós, meus Irmãos,

tão convosco embaralhado

que ao ver-me dentro do Céu

não posso já precisar

qual de nós é que sou eu.

 

Sebastião da Gama em Serra-Mãe

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