A Ceia dos Cardeais
Júlio Dantas
Livraria Clássica Editora, Lisboa, Julho de 1962
Cardeal Gonzaga,
como quem acorda, os olhos cheios de brilho, a expressão transfigurada
Em como é diferente o amor em Portugal!
Nem a frase sutil, nem o duelo sangrento…
É o amor coração, é o amor sofrimento.
Uma lágrima…Um beijo…Uns sinos a tocar..
Um parzinho que ajoelha e que se vai casar.
Tão simples tudo! Amor, que de rosas se inflora:
Em sendo triste canta, em sendo alegre chora!
O amor simplicidade, o amor delicadeza…
Ai, como sabe amar, a gente portuguesa!
Tecer de sol um beijo, e, desde tenra idade,
Ir nesse beijo unindo o amor com a amizade,
Numa ternura casta e numa estima sã,
Sem saber distinguir entre a noiva e a irmã…
Fazer vibrar o amor em cordas misteriosas,
Como se em comunhão se entendessem as rosas,
Como se todo o amor fosse um amor sòmente…
Ai, como é diferente! Ai, como é diferente!
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